Pages

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

[RESENHA DUPLA] A GUERRA QUE SALVOU MINHA VIDA E A GUERRA QUE ME ENSINOU A VIVER, KIMBERLY BRUBAKER BRADLEY.


Olá queridos, tudo bem? Hoje vim falar de dois livros que me surpreenderam de uma forma até difícil de expressar. São leituras que mexem com nosso emocional de uma forma perturbadora, mas que deixam aquela sensação que somente livros com histórias únicas, inteligentes e sensíveis são capazes de fazer. Bora saber mais sobre eles: 

A GUERRA QUE SALVOU A MINHA VIDA - LIVRO I

Ada tem dez anos (ao menos é o que ela acha). A menina nunca saiu de casa, para não envergonhar a mãe na frente dos outros. Da janela, vê o irmão brincar, correr, pular – coisas que qualquer criança sabe fazer. Qualquer criança que não tenha nascido com um “pé torto” como o seu. Trancada num apartamento, Ada cuida da casa e do irmão sozinha, além de ter que escapar dos maus-tratos diários que sofre da mãe. Ainda bem que há uma guerra se aproximando. Os possíveis bombardeios de Hitler são a oportunidade perfeita para Ada e o caçula Jamie deixarem Londres e partirem para o interior, em busca de uma vida melhor. Kimberly Brubaker Bradley consegue ir muito além do que se convencionou chamar “história de superação”. Seu livro é um registro emocional e historicamente preciso sobre a Segunda Guerra Mundial. E de como os grandes conflitos armados afetam a vida de milhões de inocentes, mesmo longe dos campos de batalha. No caso da pequena Ada, a guerra começou dentro de casa. Essa é uma das belas surpresas do livro: mostrar a guerra pelos olhos de uma menina, e não pelo ponto de vista de um soldado, que enfrenta a fome e a necessidade de abandonar seu lar. Assim como a protagonista, milhares de crianças precisaram deixar a família em Londres na esperança de escapar dos horrores dos bombardeios. Vencedor do Newbery Honor Award, primeiro lugar na lista do New York Times e adotado em diversas escolas nos Estados Unidos.

Já gostaria de dizer que está é uma leitura densa e com momentos importantes de reflexão. Como visto pela sinopse, Ada convive com uma mãe preconceituosa e que a prende como um pássaro engaiolado e fragilizado pela situação. Então, quando a Segunda Guerra estoura, Ada enxerga na situação uma forma de liberdade, mesmo que para outras pessoas seja de puro desespero. Apenas por esta questão, percebe-se a complexidade da problemática enfrentada por Ada e o quanto o seu percurso ao longo do livro nos levará a uma narrativa intrigante e cheia de altos e baixos.

A escrita de Kimberly é maravilhosa de acompanhar, especialmente por trabalhar com conteúdo de não-ficção. Fica claro o seu cuidado e trabalho de pesquisa bem elaborados. Ao chegar em outra cidade acompanhada por seu irmão, Ada se depara com um outro universo e assim embarca em uma viagem de autodescobrimento que nos encanta e proporciona momentos emocionantes. O interessante é ver estes dois paradigmas: a guerra e Ada. Quando a primeira é vista pelos olhos da segunda, onde tudo se torna mais doloroso e ao mesmo tempo a compreensão dos fatos parecem ter um peso ainda mais profundo. Amei o quanto os personagens secundários, como Susan, são importantes para a história e como a construção de cada um é criteriosamente pensada para dar forma e força a voz de Ada. A percepção do que é a família e um lar se torna questionável e compreensivo, fazendo o amor ser encontrado onde menos esperamos.

Muito mais do que a pintura de uma guerra que impactou pessoas e famílias e ainda hoje é contada as suas gerações seguintes, A Guerra que Salvou Minha Vida é uma fotografia veríssima sob a óptica de uma jovem de 10 anos que usou-se de um acontecimento destruidor para salvar sua vida e de seu irmão, modificando o destino daqueles que conheceu. Uma história emocionante que vale a pena conhecer.

"Enfim compreendi qual era a minha luta e por que eu guerreava. A Mãe não fazia ideia da forte combatente que eu havia me tornado."

ONDE COMPRAR

A GUERRA QUE ME ENSINOU A VIVER - LIVRO II  

A Guerra Que Salvou a Minha Vida ganhou um lugar especial no coração dos leitores brasileiros. A história da pequena Ada, que junto de seu irmão caçula deixou para trás sua casa em Londres para escapar dos bombardeios da Segunda Guerra Mundial, arrancou lágrimas, sorrisos e suspiros na mesma medida. Como parte da continuação, a editora publicou A Guerra Que Me Ensinou a Viver.

Após uma infância de maus-tratos, Ada finalmente recebe o cuidado que merece ao ter seu pé operado. Enquanto tenta se ajustar à sua nova realidade e superar os traumas do passado, ela se muda com Jamie, lady Thorton e Susan — agora sua guardiã legal — para um chalé em busca de um recomeço. Com a guerra se intensificando lá fora, as adversidades batem à porta: o racionamento de alimentos é uma preocupante realidade, e os sacrifícios que todos devem fazer em nome do confronto partem corações e deixam cicatrizes. Outra questão é a chegada de Ruth, uma garota judia e alemã, que gera uma comoção no chalé. Seria ela uma espiã disfarçada? Ou uma aliada em meio à calamidade? Mais uma vez, Kimberly Brubaker Bradley conquista com sua narrativa carregada de sensibilidade. Seu registro historicamente preciso revela o conflito armado pela perspectiva de uma criança, além de lançar luz sobre a atual crise de refugiados, a maior desde a guerra de Hitler, que já obrigou milhões de pessoas a deixarem seus lares em busca de paz. 

Neste livro temos a continuação da história de Ada, Jamie (seu irmão) e Susan, sua agora mãe e protetora. Após a sua cirurgia no pé, Ada retorna ao vilarejo e tenta recomeçar a vida com sua nova família. Mas as cicatrizes mais profundas e difíceis de cicatrizar nem sempre são aquelas externadas. É interessante perceber o quanto a autora ainda manteve o mesmo ritmo da narrativa e não desconstruiu seus personagens. Todos estão mudados com os acontecimentos do primeiro livro, mas ainda continuam nos mostrando suas essências e conseguimos saber isto por meio de seus diálogos e pensamentos bem escritos. Alguns deles nos levam as lágrimas em questão de segundos.

Outra coisa que amei neste livro foi a retratação de como a guerra impacta as pessoas de diversas formas, seja com o racionamento de comida, os bombardeios, as invasões constantes e as pessoas próximas que são perdidas. Mais uma vez reitero o poder dos estudos que a autora se propôs a realizar e trazer para a história. Foi essencial para contar a história de Ada, que desde o primeiro livro, passou a ser a história dos sobreviventes e não sobreviventes da guerra, das pessoas que apesar do medo constante e diário não detiveram a luz que sempre existiu dentro delas. A empatia de Ada em relação a outras pessoas me emocionou demais. A pureza desta garotinha que tanto viu e sofreu é um dos meus maiores ganhos com esta leitura.

Ainda melhor que o primeiro volume, A Guerra que Me Ensinou a Viver é um presente em forma de livro que sempre serei grata por ter lido e conhecido. Livros que contam sobre a guerra ou seus sobreviventes/figuras importantes sempre são emocionantes e especiais. Com estes dois não poderia ser diferente. Ada, Jamie, Susan, Ruth e muitos outros personagens são representações de pessoas reais que até os dias de hoje, enfrentam a dor e as marcas que a guerra é capaz de possibilitar. 

"O amor não é tão raro quanto você pensa, Ada. Podemos amar todo tipo de gente, de todas as maneiras possíveis."

ONDE COMPRAR

SOBRE A AUTORA: Kimberly Brubaker Bradley vive com o marido e os filhos em uma fazenda no sopé das Montanhas Apalaches, entre pôneis, cães, gatos, ovelhas, cabras, e muitas, muitas árvores. É autora de vários livros, entre eles Leap of Faith e Jefferson’s Sons. A Guerra que Salvou a Minha Vida ganhou o Newbery Honor Book, o Schneider Family Book Award e o Josette Frank Award, além de ter sido eleito entre os melhores livros de 2015 pelo Wall Street Journal, a revista Publishers Weekly, a New York Public Library e a Chicago Public Library, entre outros.

OUTRAS INDICAÇÕES:


"É possível saber um monte de coisas e mesmo assim não acreditar em nenhuma delas."

Nenhum comentário:

Postar um comentário