[RESENHA] Moxie, Jennifer Mathieu.

março 19, 2019


“O Riot Grrrl foi um movimento coletivo de um pequeno grupo de mulheres que acabou se tornando notícia nacional e influenciou toda uma geração de garotas. Surgido das cenas punk em Olympia, Washington, no extremo noroeste dos Esteites, no início dos anos 1990, o movimento pedia a emancipação de mulheres jovens, tomando os meios de controle de produção cultural dos subterrâneos. Apontou os contrastes da cultura mainstream – e subterrânea – de forma a unificar as meninas, eliminando o ciúme culturalmente enraizado e a competitividade entre as mulheres, ao mesmo tempo reconhecendo e aceitando as diferenças individuais delas. O movimento visava reacender o feminismo, destacando a violência sexual e psíquica contra as mulheres, apoiando a expressão sexual das jovens e o direito ao prazer. Uma resposta direta ao domínio de homens heterossexuais na cena punk, o Riot Grrrl encorajou as mulheres a tocarem instrumentos, montar e liderar bandas, escrever e distribuir zines e compartilhar experiências nos espaços seguros pra garotas”. 
- Lisa Darms, organizadora da “The Riot Grrrl Collection”. 

SINOPSE: Vivian Carter está cansada. Cansada da direção da escola, que nunca acha que os jogadores do time de futebol estão errados. Cansada das regras de vestuário machistas, do assédio nos corredores e dos comentários babacas dos caras durante a aula. Mas, acima de tudo, Viv está cansada de sempre seguir as regras. A mãe de Viv era dura na queda, integrante das Riot Grrrls nos anos 90. Inspirada por essas histórias, Viv pega uma página do passado da mãe e cria um fanzine feminista que distribui anonimamente para as colegas da escola. É só um jeito de desabafar, mas as garotas reagem. Logo Viv está fazendo amizade com meninas com quem nunca imaginou se relacionar. E então ela percebe que o que começou não é nada menos que uma revolução feminista no colégio.

Moxie já nos surpreende em sua epígrafe. É um YA que considero uma das leituras mais importantes a serem realizadas. Neste livro, acompanhamos a vida escolar e pessoal de Vivian Carter, uma protagonista que gostei muito e me lembrou da Maria de 16/17 anos. Viv está cansada de todo machismo instaurado em seus colegas de turma, além da negligenciada direção do colégio que não consegue cumprir seu papel de conciliadora e assim coibir que tais atos impróprios e desrespeitosos continuem a acontecer.  É realmente alarmante ler algumas das situações enfrentadas por ela e suas amigas, especialmente quando pensamos no quanto vivemos nestas conjunturas que sempre são justificadas como simples brincadeirinhas

A questão do bullying e dos muitos ensinamentos causados por nossa sociedade patriarcal são debatidas de maneira considerável, porém cuidadosa e bem construída, já que o aprofundamento não é a real intenção da autora. Por isto, o livro se torna especial: é uma porta de entrada para entender sobre a luta feminista intersexual por seus direitos e o respeito (que fala por si) que nós merecemos (desde sempre).

Quando Viv descobre a passado de sua mãe como integrante do movimento Riot Grrl dos anos 90 e começa a entender a luta pela igualdade de gênero, decide criar o zine Moxie, para criar um diálogo com as meninas do colégio e juntas fazerem a diferença no combate dos males que afligem o conservador colégio East Rockport. Acompanhar a criação destes fanzines ao longo da leitura é uma inspiração de aquecer o coração.

Em dado momento, a questão da sororidade é debatida de forma inteligente, além dos muitos diálogos bem escritos que nos fazem amar a maneira como estas meninas vão crescendo ao longo da história. Jennifer Mathieu transformou a sua voz e de muitas meninas por todo o mundo em palavras fortes que só poderiam estar presentes em um livro especial como Moxie. A relação de romance que temos aqui é bem gostosinha de acompanhar, mesmo não sendo prioridade. Seth é um garoto bacana que recebeu uma boa educação e quer aprender mais sobre Viv e suas ideias. As conversas entre ambos é muito bacana, principalmente ao percebermos a aplicação do conceito de local de fala.

As referências em relação às mulheres que fundaram e propagaram o Riot Grrl e as músicas e ideias que embalam os seus atos e discursos são uma delícia a parte. Presenciar cada uma das meninas envolvidas se desconstruir e se autoconhecer é a melhor coisa desta obra, tanto que me causou nostalgia pelo fato dele ser um livro que a Maria de 17 anos teria amado conhecer.

A relação de Viv com sua mãe é ótima e amo estas duas juntas. Um dos pontos bem trabalhados pela autora é a relação familiar que se torna abalada quando um de seus lados ainda permanece cético quanto as ideias primais do que é certo ou errado. Este embate também pode ser visto por outros personagens. É interessante e ao mesmo tempo de suma importância, pois trabalha a maneira como o mundo se apresenta ao tirarmos aquela lente embaçada sobre o que nossos dogmas e tradições (que cultuamos ao longo da vida) nos transmitem como únicas certezas desta vida.

No final, fiquei com o coração feliz e a mente borbulhando com tanta riqueza apresentada. Uma leitura que considero essencial para mulheres e homens de todas as idades. É leve, divertido, fácil de ler e traz múltiplas mensagens para refletir e discutir. Se você ainda tem dúvidas em relação ao movimento feminista ou algumas ideias sobre o assunto, este livro é aquele primeiro empurrão para te ajudar. E mulheres, nunca se calem. Vocês podem e devem ser ouvidas e respeitadas. Não importa qual seja sua orientação sexual, características fenotípicas, etnia, religião ou qualquer outra questão. Não deixe que exista qualquer impedimento pelo simples fato de ser MULHER. Você sempre é forte e sempre pode mais do que a sua sociedade te mostra.

RECADO: 
AS GAROTAS MOXIES DÃO O TROCO! 

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CURIOSIDADES & DICAS
Sobre os Zines & Riot Grrrl 


Riot grrrl é um movimento punk feminista underground que teve início na década de 90 em Washington, Estados Unidos. É um movimento de subcultura que combina uma visão social feminista com um estilo musical e político punk. É frequentemente associado com a terceira onda do feminismo. Tem sido também descrito como um gênero musical que nasceu do indie rock, com a cena punk servindo de inspiração para um movimento musical em que mulheres poderiam se expressar da mesma maneira que homens faziam há anos. 

Um fanzine (ou simplesmente zine) é uma publicação não profissional e não oficial, produzido por entusiastas de uma cultura particular (como um gênero literário ou musical) para o prazer de outros que compartilham seu interesse. O termo foi cunhado em outubro 1940 por Russ Chauvenet e popularizado dentre fãs de ficção científica, posteriormente adotado por outras comunidades. Fanzines podem ser dedicados a uma determinada franquia, podendo trazer informações e até mesmo fanfics. No movimento das Riot Grrl fez um grande sucesso. 

ALGUNS ZINES PARA VOCÊ CONHECER: 


SOBRE A AUTORA: Jennifer Mathieu é escritora premiada de romances juvenis. Moxie é seu primeiro livro publicado no Brasil. Ex-jornalista, ela dá aulas no ensino médio em uma escola do Texas, onde mora com o marido e o filho.

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