[RESENHA] O ódio que você semeia, Angie Thomas.

junho 28, 2018


Olá galera, tudo bem? A resenha de hoje traz um livro que fez muito sucesso tanto aqui no Brasil quanto no exterior. O ódio que você semeia ou The Hate U Give (título em inglês) é o sucesso da autora Angie Thomas, que retrata de forma impactante a violência sofrida pelos jovens negros em bairros periféricos dos EUA.

SINOPSE: Uma história juvenil repleta de choques de realidade. Um livro necessário em tempos tão cruéis e extremos. Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial. Não faça movimentos bruscos. Deixe sempre as mãos à mostra. Só fale quando te perguntarem algo. Seja obediente. Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto. Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início. Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa. Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode ignorar.

"Esse é o problema. Nós deixamos as pessoas dizerem coisas, e elas dizem tanto que se torna uma coisa natural para elas e normal para nós. Qual é o sentido de ter voz se você vai ficar em silêncio nos momentos que não deveria?"

Segundo o Atlas de Violência de 2018, em um período de uma década (2006 a 2016), a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1%. No mesmo período, a taxa entre os não negros teve uma redução de 6,8%. As maiores taxas de assassinatos de negros no Brasil se encontram em Sergipe (79 por 100.000 habitantes) e Rio Grande do Norte (70,5). As menores taxas de homicídios de negros são a de São Paulo (13,5), Paraná (19) e de Santa Catarina (22). "A conclusão é que a desigualdade racial no Brasil se expressa de modo cristalino no que se refere à violência letal e às políticas de segurança", diz o relatório. Matéria completa, aqui

Sobre o livro 

Logo nas primeiras páginas somos apresentados a personagem Starr, nossa protagonista. Ela é uma adolescente comum que ama Harry Potter e os jogos de basquete da NBA. Mora em um dos muitos bairros dos EUA que sofre com a violência diária e escancarada. Angie disse que sua maior inspiração para este livro foi o movimento Black Lives Matter (que denuncia a violência policial contra jovens negros nos Estados Unidos). Após sair de uma festa acompanhada de seu amigo de infância Khalil, ambos são abordados por policias e este encontro termina de forma trágica, modificando a vida de Starr e sua percepção sobre sua própria vida. 

Sabemos por meio de filmes e séries como a violência nos EUA é predominantemente forte, ainda mais em bairros periféricos e com pessoas negras. Fica muito claro quando Starr conta que aos seus 12 anos, seu pai a instrui a como se portar diante de um policial: “Não faça nenhum movimento”. Senti-me terrivelmente triste com esta situação. Tive um diálogo sobre isto quando estava com um amigo e ele me disse que teve a mesma conversa com seus pais. É horrível pensar que tantas crianças/adolescentes e até adultos ficam expostos desta maneira e no quanto isto se tornou uma realidade comum, mesmo que não aceitável. 

Angie nos trás a realidade do assassinato pelas mãos dos policiais por meio de Khalil. Aqui no Brasil sabemos como as coisas funcionam. Não é preciso assistir Tropa de Elite para saber, pois pelo menos uma vez por semana o noticiário nos mostra a história de um jovem assassinado, como no caso dos cinco jovens mortos a tiros no Rio de Janeiro. 

As discussões

Quando estava continuando a leitura, me deparei com uma Starr revoltada e em busca de respostas. Além dos desdobramentos jurídicos e sociais (a população coloca sua voz nas ruas), vemos como de uma hora para outra uma vítima pode se transformar em testemunha e (quase) numa culpada. Mas culpada do quê? Ver seu amigo sendo morto injustamente? Não ser capaz de fazer nada por sua condição que (infelizmente) é histórica e culturalmente subjugada?  

“Jesus negro, olhe pelas minhas crianças hoje. Mantenha-os a salvo, afaste-os do mal e ajude-os a discernir entre galhos e serpentes. Dê-lhes a sabedoria para pensarem por si próprios. Ajude Seven com essa situação na casa da mãe dele, e faça-o saber que ele sempre pode vir para casa. Obrigado pela miraculosa e repentina cura de Sekani, que aconteceu justo quando ele descobriu que hoje teria pizza na escola.”

A maneira como Angie conduz a narrativa é fascinante. Ela nos presenteia com personagens cativantes, principalmente no núcleo familiar de Starr. Seu pai, mãe, tio e meio-irmão são muito bem construídos e deixam a trama ainda mais intensa e única. O contraste das diferenças sociais e de raça é colocado de maneira tão natural. É como se Angie estivesse reescrevendo o diário de alguém que precisava mostrar esta história para o mundo. 

O namorado de Starr, Chris, é um excelente exemplo. Apesar de ter uma vida privilegiada (e não apenas financeiramente), não faz dele alguém que acredita ser superior. Ele é amável, respeitoso e ama (verdadeiramente) Starr pelo que ela é. Estes dois juntos deixará um quentinho em seus corações. Um dos relacionamentos mais lindos que já li em um livro YA, mesmo que não receba tanto destaque na história, justamente por não ser o enfoque. 

Como dito no começo, este livro é muito maior do que imaginamos. Ele nos conta a historia de Starr e Khalil. Estes dois personagens que nos trazem a realidade de muitos outros jovens. Esta resenha não chega perto de resumir a importância que este livro tem em minha vida. Obrigada Angie.

#VIDASNEGRASIMPORTAM

PARA SABER MAIS 

Se você quiser se inteirar mais sobre o assunto, recomendo estes documentários: 13° emenda; Eu não sou seu negro; Aída – Uma mulher de garra; Quatro meninas – Uma História Real (4 Little Girls); Você faz a diferença e A História do Racismo (este tem o youtube). Também deixo outra dica de ouro: conheçam o trabalho da autora  Chimamanda Ngozi Adichie

QUOTES QUE AMO: 

 “Ele disse que THUG LIFE era sigla de The Hate U Give Little Infants Fucks Everybody, ‘‘o ódio que você passa para as criancinhas fode com todo mundo’’”.

 “Ás vezes, você pode fazer tudo certo, e mesmo assim as coisas dão errado. O importando é nunca parar de fazer o certo”.

 “É maneiro ser negro até ser difícil ser negro”.

SOBRE O FILME

Starr Carter é uma adolescente negra de dezesseis anos que presencia o assassinato de Khalil, seu melhor amigo, por um policial branco. Ela é forçada a testemunhar no tribunal por ser a única pessoa presente na cena do crime. Mesmo sofrendo uma série de chantagens, ela está disposta a dizer a verdade pela honra de seu amigo, custe o que custar.

ESTREIA: 19/10/2018 | DIRETOR: George Tillman Jr.
ELENCO: Amandla Stenberg Regina Hall Russell Hornsby Common Lamar Johnson TJ Wright Issa Rae KJ Apa Sabrina Carpenter Anthony Mackie Karan Kendrick Algee Smith Dominique Fishback Megan Lawless Tony Vaughn. 



COMPRE


SOBRE A AUTORA: Angie Thomas nasceu e foi criada em Jackson, no Mississippi, o que se percebe pelo seu sotaque. Quando adolescente, era rapper e sua maior conquista foi ter escrito um artigo sobre si mesma na Revista Right On! (com foto). É bacharel em escrita criativa pela Belhaven University e possui um diploma não oficial em Hip Hop. Ela ainda sabe fazer rap, se for preciso. Seu livro de estreia, O Ódio Que Você Semeia (The Hate U Give), foi o primeiro a vencer o Walter Dean Meyers Grant, em 2015, na categoria We Need Diverse Books. O romance será adaptado para o cinema, pela Fox, e chegou ao primeiro lugar da lista do New York Times na semana de seu lançamento.

REDES SOCIAIS: SITE | TWITTER | INSTAGRAM | FACEBOOK | GOODREADS

CONHEÇA NOSSAS OUTRAS POSTAGENS:

0 comentários

@mariandonoslivros