[RESENHA] Céu sem estrelas, Iris Figueiredo.

julho 09, 2018


"G O R D A . C I N C O  L E T R A S . 
De acordo com o dicionário, aquele "formado de gordura ou matéria untuosa: substância gorda". Ou aquele "que apresenta grande teor de gordura ou matéria sebácea: caldo gordo". Ou aquele "que apresenta o tecido adiposo muito desenvolvido". 
A definição é ridícula."
- PAG. 48

Terminei este livro há mais de dois dias. A resenha que você irá acompanhar abaixo foi escrita após ter passado 20 minutos de um silencioso momento pós-leitura. Pensei em reeditá-la, mas tiraria toda a sua sinceridade. Iris, se você estiver lendo, peço desculpas se parecer intenso demais. Aos leitores do ML, espero que gostem e que possam adotar a Cecília, seu fusca azul e suas estrelas assim como eu. 
RESENHA ORIGINAL 

Agora são exatamente 5h26min da manhã. Esta tudo tão silencioso. Meus olhos estão pesados. Este livro me pegou. Me sinto um pouco perdida, então espero que minhas palavras consigam expressar o tamanho da importância desta história. A sensação de se ter um livro brasileiro, do gênero young adult e que totalmente te representa em muitos sentidos é indescritível. Apenas umas seis vezes (desde que eu me lembre) me senti desta maneira. Em todos os casos, o livro era estrangeiro. Céu sem estrelas, é aquele sorriso gentil, quentinho e verdadeiro que você recebe sem esperar. Um presente que nunca esperei receber. 

SINOPSE: Um romance sensível e envolvente sobre autoestima, família e saúde mental. Cecília acabou de completar dezoito anos, mas sua vida está longe de entrar nos trilhos. Depois de perder seu primeiro emprego e de ter uma briga terrível com a mãe, a garota decide passar uns tempos na casa da melhor amiga, Iasmin. Lá, se aproxima de Bernardo, o irmão mais velho de Iasmin, e logo os dois começam um relacionamento. Apesar de estar encantado por Cecília, Bernardo esconde seus próprios traumas e ressentimentos, e terá de descobrir se finalmente está pronto para se comprometer. Cecília, por sua vez, precisará lidar com uma série de inseguranças em relação ao corpo — e com a instabilidade de sua própria mente. “Uma história brilhante sobre encontrar a sua força mesmo quando não há esperanças. Iris escreve com uma sensibilidade incrível e dá voz aos jovens que vivem a busca constante pelo seu lugar no mundo.” – Vitor Martins, autor de Quinze dias.

A história 

A história da obra pode parecer como a de alguns YA estrangeiros, como Por Lugares Incríveis e 13 Porquês. Contudo, o engano se encontra em compará-los. Iris nos traz um história original em muitos aspectos: 1) é retratada no Brasil (Rio de Janeiro) e como uma paulista nada viajada, me peguei até mesmo ambientando a história em locais que são do meu convívio e 2) os antagonismos de cada personagens são tratados com tanta delicadeza e precisão que você percebe a preocupação da autora em nos apresentar a este mundo que não está tão distante de nós. Tanto que fica compreensível o tempo que a autora levou para aperfeiçoar e lançá-lo (cinco anos). O livro é separado em 2 partes e cada uma delas tem sua importância a partir do momento que a vida de Cecilia fica entre a dor e o sentimento de se sentir bem. Sendo narrado ora por Bernado, ora por Cecília, vemos o ponto de vista de quem assiste de fora e de quem o enfrenta diária, respectivamente. 

Aviso de gatilho 

Coloquei o aviso de gatilho porque o livro fala sobre autoflagelação e ideações suicidas. A própria autora colocou em seu twitter sobre o assunto: 

"Tentei fazer tudo de forma mais responsável possível e dispensamos o TW por alguns motivos: 1) escolhemos uma nota de autora explicativa e mais acolhedora, que não assustasse os leitores sobre os temas, mas dialogasse com eles e sobre como procurar ajuda; 2) no Brasil, as pessoas não sabem o que é TW e colocar na capa poderia fazer com que o livro não circulasse e/ou não chegasse aos leitores que precisavam ler aquela história; 3) Consideramos o desenvolvimento do livro e tudo que cerca a história até chegar a certos pontos. Dito isto, sempre tô por aqui avisando porque quero que vocês leiam esse livro para encontrar ESPERANÇA. Tem momentos tensos e complicados, por isso espere se considerar melhor pra sua saúde. Quero que vocês entendam o peso, mas não que SINTAM EM VOCÊS, sabe?" POSTAGEM COMPLETA

Por isso quero deixar meu apelo: leiam o livro se você estiver se sentindo bem consigo mesmo. Eu preciso dizer que teve um dia em que eu não estava me sentindo bem comigo mesma e não consegui prosseguir com a leitura. Como a Iris disse, Céu sem Estrelas é para dar esperanças. 

Narrativa 

A narrativa tem uma fluidez assustadoramente boa. São mais de 350 páginas mas que parecem poucas quando se esta lendo. Quando retornei a leitura, estava no capitulo 19. Terminei o livro em cerca de 4h. O mais interessante é a maneira como Iris consegue nos fazer transitar sem problemas entre os povs de Cecília e Bernardo. Cada um tem a sua voz. Cada um tem a sua vida. Mas, sentimos o quanto seus destinos estão ligados. Em alguns momentos, me peguei até pensando "huum, acho que este capitulo poderia ser narrado pela Ceci...". O meio do livro se torna muito intenso. Os capítulos de Bernardo são como água no deserto. Porém, ao mesmo tempo, quando chega próximo do final, eu não consegui mais ter a mesma sensação. Sem spoiler, quando estiver lendo, vai entender o que eu expressei. 

Os personagens 

Eu estava recentemente conversando com uma amiga sobre a falta de representatividade que estamos tendo nos livros. Antes da Cecília, a única personagem com quem eu me sentia próxima desta maneira, era a Eleanor de Eleanor and Park, e mesmo assim ainda sentia falta de algo mais próximo de minha realidade. É triste falar desta forma, mas mesmo quando existe a representatividade, sempre aparecem fatores que a afastam de nós por algum motivo. Não sei se é porque a Iris trouxe sua realidade para o livro, mas fato é que Céu sem estrelas se faz real.

Cecília: é o meu grande presente deste ano. Na FLIPOP deste ano, a autora disse que tinha medo das pessoas acharem a Cecília chata. Se eu achar alguém falando mal dela vou mandar lavar a língua com detergente. Eu amei a Ceci da parte um e me apaixonei ainda mais pela da segunda parte. Ela é aquela garota que você adoraria ter como amiga, por ser companheira, engraçada, inteligente e muito leal. Ela nos emociona com sua maneira de ser. Se tornou um caminho tortuoso acompanhar a sua caminhada na luta contra seus demônios. 

Bernado: eu amo este mocinho. Ele me fez passar alguns momentos de raiva, confesso. Muitas das coisas que ele fez, nós fazemos inconscientemente, pois temos nossos próprios preconceitos. Isto só nos torna humanos e assim podemos trabalhar para mudarmos e nos tornamos melhores a cada dia. Tudo bem que em vários momentos senti vontade de agredi-lo, mas quando entendemos mais sobre ele, fica compreensível. Ele é um personagem que nos oferece camadas a serem descobertas. Algumas são feias e outras são lindas. Mas somos assim, imperfeitos em nossas perfeições. 

Ceci&Bê: A relação entre ele e Ceci é maravilhosa. Em alguns momentos me lembrou  a química que senti entre o casal Starr e Chris de O Ódio que você Semeia. Eles possuem seus próprios problemas e estão aprendendo a lidar com eles, mas quando juntos, formam aquele amor juvenil lindo, capaz de inspirar e emocionar a todos. Com certeza, um dos melhores relacionamentos do gênero YA. 

Iasmim/Rachel: eu amei Iasmim, Rachel e Stephanie. Eu queria falar exclusivamente da Iasmim, que me fisgou desde o momento que apareceu. Ela é uma personagem que liga muitos pontos da história e abre um antagonismo que em muitos livros vem sendo tratado como algo aceitável: relacionamento abusivo. Assim como a Ceci, vamos percebendo gradativamente as mudanças que isto traz a vida da Ias. Me senti tão mal enquanto lia... eu só queria entrar no livro e pra cuidar dela. Mas sabemos que as coisas não são simples. Eu amei o cuidado e o carinho que a Ias tem com a Ceci. A cena da loja foi uma das melhores coisas que já li e uma das minhas favoritas do livro. 

Núcleo familiar da Cecília: a família é algo tão importante para nós. Um estrutura básica que nos dá equilíbrio. Quando estava lendo Proibido da Tabitha Suzuma, foi como se um raio de consciência tivesse me atingido. E ao ler Céu sem estrelas, senti o mesmo. Ceci senti a ausência da mãe, que a todo momento demonstra este distanciamento de todas as formas possíveis, deixando cicatrizes que talvez nunca possam se curar. Eu amo a prima e a avó da Ceci. São pessoas que merecem um pedestal com a gravação "melhores pessoas do mundo". 

Pontos negativos 

Vocês devem estar se perguntando: não tem nadica de nada de ruim? A resposta é não. Acho que por eu ter amado tanto talvez não enxergue possíveis erros e etc. Mas se você discordar de algo, podemos discutir de forma amigável aqui nos comentários! 

Referências 

Existem tantas referências a literatura que algumas eu até anotei. Mas, aquela que mais amei foi sobre a Sylvia Plath, que também é uma inspiração para Iris. Eu conheci esta autora quando estava buscando novas leituras femininas. Recomendo totalmente os seus livros, principalmente o meu favorito: Ariel. Também indico Os diários de Sylvia Plath e a Redoma de Vidro, muito citado ao longo do livro por nossa protagonista. 

Edição 

E como não falar desta edição. Infelizmente a minha veio faltando páginas. Mas não diminui o trabalho incrível da autora e da editora. Amei a disposição das páginas, as ilustrações, as epígrafes e principalmente a nota da autora. Tudo casou tão bem com o livro. E claro, aplausos para a artista Malena Flores, que produziu a linda arte da capa. 

IMPORTANTE: 

Caso você precise de ajuda (ou até mesmo uma conversa/desabafo), me mande um email no mariandopeloslivros@gmail.com ou uma DM pelo próprio twitter. Mas, recomendo você buscar ajuda de especialistas. Começarei a fazer (novamente) terapia. Tem sido maravilhoso, como se tirasse um grande peso de mim. Abaixo estão locais que você pode procurar: 

Algumas universidades também oferecem serviços gratuitos. 

Não é vergonha alguma procurar ajuda. Estes profissionais estão por aqui para nos ajudar. Espero que você consiga encontrar o seu combustível diário. Não se esqueça do quanto você é especial. Ninguém pode tirar o seu brilho. Como diria Bernardo, "mesmo quando você olha para o céu e não enxerga as estrelas, nunca se esqueça que elas continuam por lá". Elas torcem para que você viva um dia após o outros e que seja feliz consigo mesmo. 



MEUS QUOTES FAVORITOS: 

"Eu não me sentia forte. Demorei muito tempo até encontrar minha própria força" 

"Odiava ser encontrada daquele jeito. Passava a maior parte do tempo escondendo meus sentimentos, medos e inseguranças. Não queria que vissem aquela parte de mim, vulnerável, e tentava ao máximo disfarçar quem eu era." 

"Ser gordo ia muito além de ser uma massa de gordura. As pessoas me encaravam e automaticamente calculavam quanto peso ganhei ou perdi desde a última vez que nos vimos..." 

"Só queria me ver livre daquele sentimento, parar de me preocupar tanto com minha 
aparência" 

"Vivo um dia de cada vez. Descobri que sou forte, não só pelo meu ganho de direita ou pelo meu manequim, mas por seguir em frente"


ESPECIAIS: 

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SOBRE A AUTORA: nasceu em 1992, na região metropolitana do Rio de Janeiro. É formada em produção editorial pela UFRJ e pós-graduada em transmídia. Já atuou em diversas áreas do mercado editorial e manteve por muitos anos o blog Literalmente Falando. É autora da duologia Confissões On-line: Bastidores da minha vida virtual (Generale, 2013) e Entre o real e o virtual (2015).


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