[RESENHA] BEM-VINDOS AO PARAÍSO, NICOLE DENNIS-BENN.
janeiro 18, 2020
Quando a Morro Branco anunciou o lançamento deste livro, fiquei ansiosa para ler. Mas, como a minha lista de leituras não concluídas da época era grande, acabei deixando passar. Só posso dizer que deveria tê-lo lido muito tempo atrás, pois é uma história inesquecível e que nos prende do seu começo ao fim, deixando um sentimento agridoce no coração.
SINOPSE: Em um resort luxuoso nas belas praias de areia branca da Jamaica, Margot luta para manter Thandi, sua irmã mais nova, na escola. Ensinada desde pequena a usar o corpo para sobreviver, ela está determinada a proteger Thandi do mesmo destino. Mas quando a construção de um novo hotel ameaça sua vila, Margot enxerga uma oportunidade de independência financeira e a chance de admitir um segredo chocante: seu amor proibido por outra mulher. Bem-vindos ao Paraíso é um romance de estreia poderoso e um hino sensível aos dramas de um mundo escondido na vasta extensão de mar turquesa, um lugar que muitos turistas veem apenas como um paraíso.
Sempre que pensava na Jamaica, automaticamente me vinha a imagem de Bob Marley com a música Redemption Song ao fundo. Hoje, penso em Bem-vindos ao paraíso e na história triste, trágica e muito crível que a autora nos trouxe. Aqui temos três personagens principais: duas irmãs e uma mãe. Cada uma mostra seu ponto de vista em meio a suas vidas no "boom" dos anos 90, com o aumento dos resorts e outras construções de entretenimento para os turistas e da pobreza dos moradores locais que vivem das atividades locais, como artesanato e pesca.
Dolores, a matriarca da família, revende seus produtos na feira para turistas, sempre pensando na educação de sua filha mais nova, Thandi. Ela se presta a inúmeras humilhações e um passado de muita violência e falta de amor que deixa marcas até hoje, o que fica claro na sua relação turbulenta com a filha mais velha, Margot. O arco de Dolores é bem interessante de acompanhar, visto que você pode demorar para sentir qualquer empatia por ela e somente quando começa a entender suas vivências, é que pode ser capaz de entender suas ações.
Margot é a personagem mais desenvolvida do livro. Ela trabalha em um dos principais hotéis da cidade e com isto ganha a fama de "pomposa" da região. Mas, na verdade, está envolvida com prostituição desde quando era mais jovem, pois Dolores a colocou nesta atividade sexual como forma de "garantir" o sustento da casa. Assim como a mãe, a vida dela gira em torno de buscar melhorias e pensar no futuro para sua irmã Thandi, uma das únicas pessoas que diz ser capaz de amar na vida. Também temos no arco de Margot, a questão da sexualidade: mesmo se envolvendo carnalmente com homens, a personagem se envolve romanticamente com Verdene, a quem recorre quando sente-se perdida ou com saudade.
Já Thandi foi a personagem que mais me identifiquei. Ela fica no meio do fogo cruzado entre sua mãe e irmã. Também tem seus sonhos e ambições, pois ama desenhar e quer seguir a carreira de artista, apesar da pressão insustentável de sua família por cursar uma universidade. Neste meio tempo, utiliza-se de produtos perigosos para clarear sua pele, pois houve dentro de casa, na escola e em sua comunidade que mulher de pele mais escura e que nasce pobre não chega a lugar algum, o que a molda e a faz acreditar que se tornar mais clara e se relacionar com jovens mais ricos fará com que seja aceita por todos.
É um livro que recebeu críticas quanto a forma da autora escrever. Eu o considero um dos meus favoritos da vida. Amo a maneira como Nicole abordou temas importantes e necessários como a lesbofobia ao mostrar a difícil realidade de Verdene em sua comunidade, a questão racial no arco de Thandi, o turismo sexual, abuso sexual, opressão social e a violência em seu estado mais puro. Não é uma leitura fácil. Tiveram momentos que foram difíceis de prosseguir, ainda mais quando ligados as personagens Thandi, Margot e Verdene. Mas, traz reflexões sobre a relação delicada entre oprimido e opressor. O que acontece quando o primeiro passa a adotar os discursos e condutas do segundo por conta de seus traumas?
Outro ponto positivo no livro que vale citar é a maneira como a editora optou por deixar a linguagem do cotidiano, extremamente coloquial e nativo, com que as pessoas falam e dialogam umas com as outras. Foi muito mais imersivo e compreensivo, pois dizia muito sobre quem era este povo, qual a sua situação sociocultural e o que os caracteriza.
Minha única ressalva a este livro é a forma como terminou. Não me pareceu condizer que o restante do livro, pois foi apressado e deixou muitas pontas soltas. Apesar disto, alguns arcos foram ajustados e um deles me pareceu coerente, mesmo que triste. É uma obra profunda, atual e que retrata a realidade de um local que visto de fora é paradisíaco e inspirador, mas que esconde suas barbáries contra suas mulheres, crianças e idosos. Abaixo seguem alguns links complementares que fiz para me aprofundar neste livro:
SINOPSE: Em um resort luxuoso nas belas praias de areia branca da Jamaica, Margot luta para manter Thandi, sua irmã mais nova, na escola. Ensinada desde pequena a usar o corpo para sobreviver, ela está determinada a proteger Thandi do mesmo destino. Mas quando a construção de um novo hotel ameaça sua vila, Margot enxerga uma oportunidade de independência financeira e a chance de admitir um segredo chocante: seu amor proibido por outra mulher. Bem-vindos ao Paraíso é um romance de estreia poderoso e um hino sensível aos dramas de um mundo escondido na vasta extensão de mar turquesa, um lugar que muitos turistas veem apenas como um paraíso.
Sempre que pensava na Jamaica, automaticamente me vinha a imagem de Bob Marley com a música Redemption Song ao fundo. Hoje, penso em Bem-vindos ao paraíso e na história triste, trágica e muito crível que a autora nos trouxe. Aqui temos três personagens principais: duas irmãs e uma mãe. Cada uma mostra seu ponto de vista em meio a suas vidas no "boom" dos anos 90, com o aumento dos resorts e outras construções de entretenimento para os turistas e da pobreza dos moradores locais que vivem das atividades locais, como artesanato e pesca.
Dolores, a matriarca da família, revende seus produtos na feira para turistas, sempre pensando na educação de sua filha mais nova, Thandi. Ela se presta a inúmeras humilhações e um passado de muita violência e falta de amor que deixa marcas até hoje, o que fica claro na sua relação turbulenta com a filha mais velha, Margot. O arco de Dolores é bem interessante de acompanhar, visto que você pode demorar para sentir qualquer empatia por ela e somente quando começa a entender suas vivências, é que pode ser capaz de entender suas ações.
Margot é a personagem mais desenvolvida do livro. Ela trabalha em um dos principais hotéis da cidade e com isto ganha a fama de "pomposa" da região. Mas, na verdade, está envolvida com prostituição desde quando era mais jovem, pois Dolores a colocou nesta atividade sexual como forma de "garantir" o sustento da casa. Assim como a mãe, a vida dela gira em torno de buscar melhorias e pensar no futuro para sua irmã Thandi, uma das únicas pessoas que diz ser capaz de amar na vida. Também temos no arco de Margot, a questão da sexualidade: mesmo se envolvendo carnalmente com homens, a personagem se envolve romanticamente com Verdene, a quem recorre quando sente-se perdida ou com saudade.
Já Thandi foi a personagem que mais me identifiquei. Ela fica no meio do fogo cruzado entre sua mãe e irmã. Também tem seus sonhos e ambições, pois ama desenhar e quer seguir a carreira de artista, apesar da pressão insustentável de sua família por cursar uma universidade. Neste meio tempo, utiliza-se de produtos perigosos para clarear sua pele, pois houve dentro de casa, na escola e em sua comunidade que mulher de pele mais escura e que nasce pobre não chega a lugar algum, o que a molda e a faz acreditar que se tornar mais clara e se relacionar com jovens mais ricos fará com que seja aceita por todos.
"Ninguém ama uma garota negra. Nem ela mesma "
Outro ponto positivo no livro que vale citar é a maneira como a editora optou por deixar a linguagem do cotidiano, extremamente coloquial e nativo, com que as pessoas falam e dialogam umas com as outras. Foi muito mais imersivo e compreensivo, pois dizia muito sobre quem era este povo, qual a sua situação sociocultural e o que os caracteriza.
Minha única ressalva a este livro é a forma como terminou. Não me pareceu condizer que o restante do livro, pois foi apressado e deixou muitas pontas soltas. Apesar disto, alguns arcos foram ajustados e um deles me pareceu coerente, mesmo que triste. É uma obra profunda, atual e que retrata a realidade de um local que visto de fora é paradisíaco e inspirador, mas que esconde suas barbáries contra suas mulheres, crianças e idosos. Abaixo seguem alguns links complementares que fiz para me aprofundar neste livro:
Esta leitura vai mudar e/ou acrescentar em seus questionamentos sobre identidade, afeto e muitos outros assuntos que rondam nossas vidas. Foi uma leitura transformadora, daquelas que você guarda com você sempre, mesmo que seja uma experiência dolorosa.
“... quando ela acorda, há silêncio, como se o dia prendesse a respiração.”
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SOBRE A AUTORA: Nicole Dennis-Benn nasceu e cresceu em Kingston, a capital da Jamaica. Aos 17 anos foi morar com seu pai nos Estados Unidos, para estudar medicina. Depois de um mestrado em Saúde Pública, e de atuar por alguns anos como pesquisadora na Universidade de Columbia, decidiu fazer aquilo que sempre amou: escrever. Cursou então um novo mestrado em escrita criativa. Já deu aulas em Princeton e nas Universidades da Pennsylvania e de Nova York. Seu aclamado livro de estreia, Bem-vindos ao Paraíso, aborda questões de sexualidade, gênero, turismo sexual e racismo. Nicole Dennis-Benn vive hoje com sua esposa no Brooklyn, Nova York.
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