[ENTREVISTA] REGIANE WINARSKI, TRADUTORA BRASILEIRA.
março 16, 2020
O ML tem a honra de apresentar a nossa entrevistada da semana: Regiane Winarski, tradutora brasileira de diversos livros, incluindo os clássicos do autor Stephen King e a série Para Todos os Garotos que Já Amei, de Jenny Han. A gama de gêneros no qual trabalha a faz se destacar no meio em que trabalha, principalmente pelo ofício bem realizado e o amor pela profissão que a segue desde sua graduação. Assim, para conhecer um pouco mais dela e de sua carreira, compartilho o bate-papo exclusivo que ela concedeu ao blog, e desde já reitero minha gratidão pela conversa e todo o carinho da Regiane em se dispor a responder. Segue a entrevista:
MARIANDO NOS LIVROS: Como você iniciou sua carreira como tradutora?
REGIANE WINARKSI: Quando terminei o ensino médio, eu queria ser engenheira química – mas bastou chegar o primeiro estágio pra eu ver que aquele não era meu caminho, que eu era dos livros. Por isso, fui estudar Produção Editorial (que, na UFRJ, é uma das especializações de Comunicação Social), com a intenção de ser editora. Eu sempre me interessei por tradução, mas, como a maioria das pessoas que quer traduzir e vem falar comigo, eu não sabia por onde começar. Paralelamente, fiz licenciatura curta pra dar aulas de inglês e ir ganhando uma grana. Só que, quando terminei a faculdade, não havia perspectiva de trabalho na área editorial e eu já tinha um bom emprego como professora, e por isso lá fiquei. Depois de dez anos dando aulas, com minha filha pequenininha, decidi que era hora de investir em um trabalho que me permitisse cuidar dela e achei que era hora de voltar a pesquisar sobre tradução e tentar descobrir os caminhos. Fiquei um ano estudando (por contra própria) e consegui um teste na Harlequin um pouco depois, pra traduzir romances de banca. Fiz curso de legendagem e trabalhei com isso por um tempo, e em seguida vieram outros testes e as portas foram se abrindo.
ML: Você saberia dizer quantos livros já traduziu até hoje? Teve alguma obra que te marcou e ainda lembra com muito carinho?
RW: Olha, eu não fiz a conta recentemente, mas sei que são mais de 150 (embora nem todos publicados). Muitas obras me marcaram e ficaram na lembrança com carinho, é difícil citar uma. Se tivesse que escolher um, talvez meu primeiro trabalho com livros do Stephen King, que foi um copidesque de À espera de um milagre.
ML: Como você se prepara para os seus trabalhos?
RW: Eu costumo organizar uma planilha assim que aceito a tradução de um livro. Sabendo prazo e tamanho do livro, eu faço uma escala de quanto fazer diariamente, sempre tendo dias livres pra compensar quando tiver algum imprevisto e pra revisar no final. Todo dia, anoto nessa planilha se cumpri ou não a meta. Quando não cumpro, refaço o planejamento. Nas minhas planilhas só entram os dias úteis, mas os fins de semana acabam sendo coringas pra épocas mais complicadas, e às vezes eu trabalho num sábado ou domingo pra compensar algum atraso (principalmente nos livros de prazos mais apertados). Eu rendo melhor no período da manhã, porque fico sozinha em casa. Quando minha filha chega da escola, eu paro um pouco pro almoço e acabo fazendo outras tarefas de casa, depois retomo à tarde.
ML: Como funciona o “aceite” por parte das editoras em relação as mudanças na tradução de determinados livros, principalmente naqueles que citam palavrões ou expressões que não são de nosso conhecimento?
RW: Uma coisa importante ao se traduzir livros é conhecer o perfil da editora e saber o que ela espera da gente. Muitas têm um manual/orientação sobre padronização dos textos delas e a gente tem que conhecer isso pra se adequar ao que a editora quer. Em geral, palavrões não são problema. Os tradutores costumam ter liberdade pra trabalhar em cima do texto do original. O que eu costumo fazer é deixar comentários no texto traduzido nos trechos em que gostaria que o editor desse uma olhada caprichada ou me ajudasse com alguma questão mais difícil.
ML: Como se encontra o mercado de trabalho para o tradutor no contexto do mercado editorial atual?
RW: O mercado editorial como um todo está muito lento. As editoras estão publicando menos e, por consequência, os tradutores estão tendo menos trabalho também. Conheço pessoas que estão com bem menos trabalho do que costumam ter e eu mesma já senti diferença no fluxo, mas tenho muita esperança de que isso seja temporário e passe logo.
ML: Se você pudesse fazer duas listinhas - maiores dificuldades e prazeres em ser uma tradutora – o que você colocaria?
RW: Dentre as dificuldades: o pouco reconhecimento do profissional, o valor baixo pago por muitas editoras.
Dentre os prazeres: interagir com leitores nas redes sociais, poder dar dicas pra aspirantes, trocar ideias com outros profissionais, trabalhar com editoras que realmente acreditam no meu trabalho.
ML: A sua newsletter é incrível. As experiências, opiniões e conquistas que você compartilha nos deixam mais próximos de você, profissional e pessoalmente, o que é algo muito bacana. Uma troca muito importante. Como surgiu a ideia de criar o Atrás da folha de rosto?
RW: A ideia da newsletter surgiu no Twitter. Contei uma historinha sobre a tradução do It – A coisa e a Jana Bianchi (escritora e tradutora) disse que eu devia escrever uma newsletter. Fiquei animada e comecei. Muitas das minhas cartinhas me deixaram muito feliz, mas o que foi maravilhoso mesmo foi a troca, as respostas que recebi, ou por mensagens de redes sociais ou como respostas diretas aos e-mails da cartinha. Já tem uns 3 meses que não escrevo porque tirei férias no fim do ano e desde que voltei estou meio enlouquecida de trabalho, mas quem sabe qualquer hora dessas eu volto a escrever...
ML: Pergunta rápida: qual livro define quem é Regiane Winarski?
RW: Nossa, que pergunta difícil! Acho que não consigo me definir por um livro, mas o primeiro que surgiu na minha mente foi A história do amor, da Nicole Krauss, como um livro que eu amo muito. (Mas há muitos outros, não tem como um livro só me representar.)
ML: Eu queria deixar este espaço para você mandar um recadinho especial para quem acompanha o seu trabalho. Sinta-se à vontade para se expressar.
RW: Eu sempre peço às pessoas que conheçam os tradutores. Vejam quem traduziu os livros, percebam a frequência com que esses profissionais aparecem nos livros que vocês leem. Creditem os tradutores caso tenham blog, canal de YouTube. Tenham também em mente que a produção de um livro envolve muita gente e o trabalho final é mérito de uma série de profissionais. Tenham paciência, tenham empatia. Não é um trabalho fácil, mas a maioria dos tradutores ama o que faz. E leiam! Leiam sempre! E obrigada a você, Maria Carolina, pelo espaço!
PARA CONVERSAR COM A REGIANE:
ACOMPANHE OS SEUS TRABALHOS:
IMPORTANTE:
VÍDEOS IMPORTANTES PARA SEREM ASSISTIDOS:
0 comentários