[ADAPTAÇÃO LITERÁRIA] SOBRE O TAL DOS BRIDGERTONS.
janeiro 21, 2021No final do ano passado, estreou na Netflix a adaptação da série de livros Bridgerton, da autora americana Julia Quinn. Sendo o primeiro trabalho de Shonda Rimes (criadora de Grey’s Anatomy e How To Get Away With Murder) para o serviço de streaming, juntamente com Chris Van Dusen, que trabalhou com ela em Scandal, a produção já ocupa o posto de 5º série original mais assistida pelos assinantes, o que faz com que as expectativas para a segunda temporada estejam ainda mais altas.
Contendo oito episódios que ficam na média de 50min até 1h de duração, a história apresentada se baseia nos acontecimentos do primeiro livro, chamado O duque e eu, que conta a história de Daphne Bridgerton e Simon Basset, o charmoso duque de Hastings. Apesar do foco principal ser neste casal, a série precisou fazer algumas mudanças para nos apresentar aos outros personagens e suas histórias, o que fez com que a riqueza dos detalhes e até da interação entre eles seja bem orquestrada ao longo desta temporada. Abaixo, irei comentar, sem spoilers, minha opinião sobre a série. Quer dizer, pode escapar alguma coisa ou outra, então recomendo que você leia por sua conta e risco. Ou assista a série porque ela está incrível e depois volte aqui! :)
Sobre os protagonistas
Confesso que sou muito fã dos livros e este primeiro é o meu menos favorito. Entretanto, fiquei absurdamente encantada com as atuações da Phoebe Dynevor (Daphne) e Regé-Jean Page (Simon). Os dois ficaram lindos em cena e deu pra perceber a química entre eles desde a primeira cena em que estavam juntos. Amei acompanhar a chama lenta com que a relação deles foi desenvolvida nos primeiros episódios. Inclusive, em uma determinada parte em que o Simon faz uma declaração sobre a Daphne, fiquei bem emocionada. Eles são pessoas que não querem viver com base no que a sociedade espera deles e acabam bolando um plano de que ambos estão cortejando um ao outro para se manterem longe de pretendentes. Porém, tudo muda quando eles começam a se apaixonar, mesmo que Simon não pense em se casar ou ter filhos, algo que Daphne quer muito e que seja por amor.
As cenas mais quentes definitivamente foram muito bem produzidas e pensadas, especialmente por ter muitas delas nos livros (risos). O mérito é total dos atores, produção e, principalmente, do diretor de intimidade, que conseguiu criar uma atmosfera de conforto e confiança. Por falar nelas, não posso deixar de comentar bem rapidamente sobre a famosa cena de estupro que temos nos livros. Ok, eu disse que seria sem spoiler, mas quero muito pontuar porque eu gostei da modificação que foi feita, pois foi uma forma de alterar a discussão sobre o passado do Simon e o querer ser mãe e ter direito a suas próprias escolhas por parte da Daphne. No livro, claramente houve uma ação não consensual e felizmente é repudiada pelos leitores. Assim, quando a série consegue reverter a favor de uma conversa sobre como as mulheres são tratadas pela sociedade, seja no período regencial ou até nos dias de hoje, já vemos um ganho enorme. São assuntos que hoje temos em pauta, como a escolha de nossos parceiros, em gerar (ou não) uma vida e até em escolher ser feliz sozinho, sem necessitar de um casamento.
Simon e Daphne, o casal da temporada (literalmente!). |
Os outros personagens
Como já dito, algumas mudanças precisaram ser feitas para a série conseguir se manter e não nos deixar entediados durante quase 1 hora de cada episódio. É claro que como fã, existiram algumas coisas que me deixaram com uma sensação de estranheza, mas entendo que foram feitas para termos um desenvolvimento dos personagens para o momento de suas próprias jornadas. As escolhas do cast foram muito bacanas e hoje eu já consigo visualizar todos eles ao reler os livros.
Os que mais me deixaram bem feliz foram os personagens da Penélope (minha favorita), Eloise, Anthony e Benedict. Acredito que faça sentido por eles serem os próximos a ganharem mais espaço, em especial o primogénito da família, que está envolvido com a cantora lírica Siena Rosso. Inclusive, de todos, o arco do Anthony foi o mais modificado, pois toda esta relação supostamente romântica não ganha tanto aprofundamento nas obras fictícias, já que ele conhece seu par no seu próprio livro. Entendo que foi uma escolha para ele criar uma armadura protetora envolta de si mesmo e com o passar do tempo, conseguir amadurecer e se dar a chance de ser feliz.
Outro favorito meu que ficou um tanto descaracterizado foi o Colin, mas aceitei esperando que numa próxima temporada ele esteja mais crescido. Tudo que envolve ele, a família Featherington e a Marina Thompson, uma personagem que ganhou mais espaço do que eu esperava, é bem interessante de acompanhar, principalmente por retratar temas como depressão, gravidez fora do casamento, padrões de beleza e problemas familiares.
A presença de representatividade na série foi algo bem elogiado não somente pelos fãs, como também pela crítica. Não houve escolhas pensando no chamado color blind, uma expressão usada quando a escalação da etnia do personagem não faz diferença para a trama. Segundo o que os produtores da série afirmaram, eles se basearam na história real da rainha Sophie Charlotte de Mecklenburg-Strelitz, esposa do rei Jorge III, descendente de africanos. A própria série aborda o assunto em um dos episódios, quando se fala da ascensão de pessoas não-brancas na monarquia, o que é extremamente eficaz e especial para todos nós que buscamos nos ver (sem estereótipos) nos materiais audiovisuais.
A maneira como o feminismo é refletido nas tramas está por conta das diversas personagens e suas lutas pessoais. É importante lembrar que a série é uma forma de escapismo e nem mesmo nos livros existem estas discussões mais aprofundadas. Porém, dizer que elas não existem não é justo, especialmente quando temos Eloise, Penélope, Siena, Marina e até a própria Daphne como elementos de análise.
E não poderia deixar de falar dela: Lady Whistledown (LW). A fofoqueira que precisou correr para que Hugo Gloss pudessem andar, foi muito bem representada pelas narrações perfeitas de Julie Andrews, atriz maravilhosa e a eterna Noviça Rebelde e rainha de Genóvia no filme O Diário da Princesa. Ela tem um papel fundamental em diversos momentos, inclusive na família Bridgerton. Todos tentam descobrir quem poderia ser ela, mas apenas no último episódio (atenção) existe a revelação de quem é a infame percussora dos tabloides, apesar de ser apenas apresentado para nós, o público. Nos livros descobrimos apenas no seu quarto volume e a personagem é um ícone que merece sempre ser exaltado. Você vai gostar muito dos comentários que ela faz sobre alguns personagens.
Uma beleza de se assistir
Desde as locações escolhidas até os vestuários, tudo é tão bem feito que dá muito gosto de ver. A paleta de cores que a série nos oferece é muito significativa dependendo da cena e do personagem em questão. Mesmo que alguns episódios tenham mais tempo de duração, você nem sente, já que a obra ficou bem redondinha e sempre tem algo bacana a nos oferecer, principalmente quando o foco não está somente na família Bridgerton. Mas, algo que vale o destaque é a trilha sonora. Com algumas músicas atuais como thank u, next da Ariana Grande e bad guy da Billie Eilish, elas casam direitinho com os momentos que aparecem, o que dá um clima perfeito pra narrativa. Aliás, vendendo meu peixe, tenho uma playlist que fiz sobre os livros que incluem estas versões, caso tenha interesse!
A rainha Charlotte em Bridgerton, interpretada por Golda Rosheuvel. |
O que esperar para a próxima temporada
Se pensarmos que a série está seguindo a ordem dos livros, o próximo casal será Anthony com Kate Sheffield, uma personagem que ainda não foi apresentada. O livro deles é um dos mais queridos pelos leitores e traz mais informações sobre o patriarca da família, Edmund Bridgerton. Graças a audiência, a segunda temporada foi confirmada, como vocês podem conferir no vídeo abaixo. Por conta da pandemia, as gravações foram adiadas para a primavera norte-americana (entre o final de março e a metade de junho), mesmo com a perspectiva de ser iniciada em março, segundo os produtores. O que sabemos é que todos estão ansiosos!
Os livros
Se você quer conhecer um pouco mais do que está por vir nas próximas temporadas (vamos sonhar um pouco rs), indico muito a leitura dos livros. São 9 livros no total, todos lançados aqui no Brasil pela Editora Arqueiro. A ordem deles é: O duque e eu (Daphne e Simon); O visconde que me amava (Anthony e Kate); Um perfeito cavalheiro (Benedict e Sophie); Os segredos de Colin Bridgerton (Colin e Penélope); Para Sir Phillip, com Amor (Eloise e Phillip); O conde enfeitiçado (Francesca e Michael); Um beijo inesquecível (Hyacinth e Gareth); A Caminho do Altar (Gregory e Hermione); E Viveram Felizes para Sempre (mostra um panorama sobre os irmãos e um pouco do romance entre Violet e Edmund, os pais deles). Também tem mais da LW com os seus livros: Nada escapa a lady Whistledown e Lady Whistledown contra-ataca.
Capas das primeiras versões americanas dos livros enquanto romances de banca. |
Não deixem de conhecer a série e os livros. Valem muito a pena!
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