[RESENHA] A princesa salva a si mesma neste livro, Amanda Lovelace.
abril 30, 2018
Olá galera, tudo bem? Hoje trago aqui um livro que me surpreendeu do começo ao fim. Eu o descobri quando li Outros Jeitos de Usar A Boca e automaticamente me apaixonei pelo tipo de escrita e as diferentes representações que eles podem exercer em nós mesmos.
A obra conta com uma coletânea de poemas escritos por Amanda Locelace. Dividido em quatro partes (A princesa, A donzela, a Rainha e Você) a autora nos mostra sua infância, adolescência e vida adulta de maneira poética, melancólica e muito sincera.
Do começo ao fim você se depara com um diário aberto sobre sua vida. Conforme avancei, me deparei com situações cruéis e verdadeiras tratadas de forma honesta e sem censura por Amanda como abuso sexual, suicídio, autoconhecimento, morte, dor e recomeço. Tudo isto resumido em versos que nos instigam a querer saber sobre quem ela diz, sobre o que ela pensa ou sente. Em alguns momentos se torna até sufocante de tanta angústia apresentada por meio de palavras. Tanto que a própria autora acreditou ser impossível transportar tanta bagagem para o universo dos livros:
"Na verdade, foi muito fácil escrever sobre isso. As palavras saíam como se estivessem esperando para serem escritas a minha vida toda. Minha principal preocupação era outra: imaginar as pessoas lendo o que eu havia escrito, porque recusei me autocensurar. Abuso infantil e distúrbios mentais são temas desconfortáveis, que a sociedade prefere ignorar do que confrontar. Nem todas as reações de leitores ou das pessoas que eu amo foram positivas, mas aceitei que, às vezes, dizer a verdade traz consequências e, no final, o que realmente importa é como isso nos ajuda a aliviar o próprio fardo."
- Amanda Lovelace para a Marie Claire
Eu imagino que tenha sido uma viagem turbulenta, já que reviver tantas memórias dolorosas não é algo fácil. Entretanto, precisamos agradecer pela sua coragem. Este livro é como uma excursão em que cada poema simboliza uma pegada que deixamos ao longo do caminho, onde podemos visitá-la em vários momentos. Talvez para buscar consolo ou inspiração.
Somos apresentados a infância de Amanda. Percebemos que ela sempre foi uma garotinha que ama livros, aceita as pequenas coisas da vida e tem muito amor para oferecer. Mas sofre por ser quem é e isto a leva a caminhos espinhosos. Sua relação com a família não é das mais queridas (por conta das divergências de opiniões) o que impulsiona seus problemas a se tornarem ainda mais amplos.
Em minha opinião esta é a parte mais pessoal e triste de todo o livro. É aqui que vemos os resultados de A Princesa. Ocorrem tantas coisas com nossa protagonista que você se sente preso em uma bolha com a mesma. Além de estar passando pela fase da adolescência, que por si não é fácil, ainda perde a irmã (que se suicida) e sua mãe, vítima de câncer. O leitor sente a dor e se torna impossível não desejar ajudá-la, mesmo que seja com um abraço.
Aqui chegamos a fase adulta. O lema que mais combina com o capítulo é "seguir em frente". Tanta coisa acontece em sua vida... traição, perda de confiança, violação. Mais de uma vez, podemos nos pegar pensando "que vida é esta que Amanda viveu?". É brutal acompanhar toda esta caminhada. Sentimos um cansaço emocional enorme, mas continuamos firmes e fortes.
Este capítulo é muito especial. Eu o considero um post it colocado especialmente para mim. Aliás, para nós. Aqui, a autora escreve poemas que nos fazem acreditar que nem tudo esta perdido no mundo. Que devemos lutar contra nossos dragões diários e fazer deles a nossa força para se levantar, sorrir e dizer: "nada mais me abala".
É um desafio fazer a leitura deste livro. A cada parte que você avança fica a percepção de que uma parte sua se perdeu em meio ao mar de confissões de Lovelace. Um mix de sentimentos que te faz repensar a todo mundo sobre sua vida. Não existe certo ou errado. Não existe vilão ou mocinho. Não existe um conto de fadas. Existem algumas grandes lições que aprendemos como:
1) Devemos nos amar e aceitar como somos.
2) A beleza exterior é muito mais valiosa que a interior.
3) O amor próprio é se sentir bem consigo mesma todos os dias, principalmente ao dormir.
É difícil tratar de assuntos como autoestima ou os problemas que a falta dela podem acarretar. Não sei se indicaria este livro a alguém que poderia sofrer algum gatilho. No entanto, gostaria muito que houvesse uma reflexão sobre como estamos vivendo. Abaixo coloquei alguns quotes que realmente me emocionaram muito. A mensagem por trás deles está em entendê-los e levar consigo a lição de que a sua vida é importante sim. Espero que você esteja sendo muito feliz neste momento.
gorda
(gor.da) [ô]
adjetivo
1: palavra descritiva.
não tem nenhum significado profundo.
não deve determinar
o valor
(ou a falta dele)
de um ser humano.
- o que eu sei agora que gostaria de saber então.
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quem eu
teria
sido sem
a inspiração
por trás dos meus
demônios?
- provavelmente não seria poeta
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I. um livro adorado.
II. um dia frio e nublado.
II. uma caneca de café.
IV. um cobertor quentinho.
V. você.
- as únicas coisas de que preciso para me sentir livre.
_____________________________________________________
você
não fez
absolutamente
nada
para
merecer
isso.
- foda-se a cultura do estupro.
______________________________________________________
repita comigo:
você não deve
a ninguém
o seu
perdão.
- exceto talvez a sia mesma.
______________________________________________________
quando
alguém
se oferece para
salva você
faça disso
a missão
para
salvar a si mesma.
- acredito em você.
PLAYLIST･ﾟ*｡･+☆
Fiz esta playlist no Spotify para vocês poderem acompanhar a leitura. São mulheres e vozes fortes que contam suas histórias de forma sabia e artística. Espero que gostem!
SOBRE A AUTORA: Devoradora de palavras e leitora ávida e apaixonada de contos de fadas desde a infância, era natural que Amanda Lovelace começasse a escrever seus próprios livros. E foi o que ela fez. Quando não está lendo ou escrevendo, pode ser encontrada aguardando seu café com especiarias para voltar à maratona de temporadas de Gilmore Girls. Poeta vitalícia e atual contadora de histórias, mora em New Jersey com seu noivo, seu gato temperamental e uma coleção de livros tão grande que em breve precisará de uma casa só para ela. Bacharel em Literatura Inglesa, cursou também Sociologia. A Princesa Salva a Si Mesma neste livro é sua estreia na poesia e o primeiro livro da série Women Are Some Kind of Magic”.
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