[RESENHA] A Sombria Queda de Elizabeth Frankenstein, Kiersten White.
março 31, 2019
"Cada degrau foi uma eternidade. Demorei mais do que deveria para subir. Eu sabia que precisava ver o que havia depois daquela porta de alçapão. Por outro lado, torcia desesperadamente para que estivesse trancada".
SINOPSE: Elizabeth Lavenza não tem uma refeição decente há semanas. Seus braços magros estão cobertos de marcas de seu "cuidador", e ela está prestes a ser jogada nas ruas... até que ela é levada para a casa de Victor Frankenstein, um jovem solitário que tem tudo - exceto um amigo.Victor torna-se para Elizabeth a fuga da miséria. Ela faz tudo para se tornar indispensável - e isso funciona. Ela é aceita pela família Frankenstein e recompensada com uma cama quente, comida deliciosa e vestido da melhor seda. Logo ela e Victor são inseparáveis. Mas sua nova vida tem um preço. À medida que os anos passam, a sobrevivência de Elizabeth depende de controlar o perigoso temperamento de Victor e atender a todos os seus caprichos, não importa quão absurdos estes sejam. Através de seus olhos azuis e doce sorriso reside o coração de uma garota determinada a permanecer viva, a todo custo... assim como o mundo é consumido pela escuridão.
Elizabeth Frankenstein é sem sombra de dúvidas uma das minhas personagens favoritas. Quando li O Promoteu Moderno, escrito por Mary Shelley, senti uma forte ligação por sua história e quando comecei a ler este livro, estava verdadeiramente interessada e intrigada pela coragem de Kiersten em fazer esta releitura. Não me arrependendo em momento algum da leitura e a classifico como uma das melhores que já realizei em pouco tempo, pois foram dois dias de pura imersão na mente e coração desta jovem (e forte) mulher.
Segundo a autora, enquanto estava no começo da escrita, pensou em escrever um romance epistolar - técnica literária que consiste em desenvolver a história através de cartas, embora também sejam usadas entradas de diários e notícias de jornais - mas acabou mudando de ideia, pois entendeu que não era aquela história que deveria ser recontada. Como ela mesmo disse, "qualquer releitura deve equilibrar a devoção à fonte e à consciência do público. É um dos aspectos mais desafiadores de escrevê-los".
A versão original sempre me deixou incomoda por tratar Elizabeth como mera sombra de Victor, quando ela tinha papel significativo na trama. Mas nesta obra, tanto ela quando Justine são as melhores coisas que existem, desde suas características até os papéis que desempenham ao longo da história. E tratando-se do empoderamento feminino e de todos os tipos de violência, White acerta em tudo, de forma cuidadosa e bem construída. É perceptível o crescimento da personagem no desenrolar de sua trajetória, ainda mais quando levantado o dilema de sua real personalidade: menina boa x menina má, o que impulsiona seu arco e assim, ao final, nos pegamos refletindo se faríamos o mesmo se estivéssemos em seu lugar, desesperados por continuar a viver e sentindo-se em dívida que aqueles que lhe deram uma oportunidade de se reerguer.
Victor é um personagem bem interessante de acompanhar. Achei esta sua versão mais agradável, pois a autora conseguiu desnudá-lo: desde a sua condição solitária que se desenvolve quando criança e aumenta conforme cresce até a forma com que se entrega a morte. Você pode não aceitar seus atos e pensamentos, mas compreende. A criação do monstro é outro momento a ser considerado, pois aqui, encontramos uma visão mais aprofundada dos planos que o fizeram surgir.
"Devia saber que o perigo estava dentro de você... em sua mente, em o que quer que você tenha no lugar onde deveria existir uma alma (...)"
A mesclagem com o clássico e suas passagens importantes (e simbólicas) além das descrições da grande criação, são simplesmente impecáveis. É impossível não ficar (pelo menos em alguns momentos) boquiabertos com a ótima escrita e domínio da história. É inspirador! Mas, posso ler este livro sem conhecer o original? Por mim, numa boa. Se você se interessar pela leitura do clássico será ótimo, pois sua publicação trouxe muitas mudanças para a literatura, já que foi escrito por uma mulher em uma época que somente homens eram vangloriados. Mas, A Sombria Queda de Elizabeth Frankenstein é uma versão incrível e atual.
Inclusive, em entrevista ao site Women Write About Comics, White diz que a interação entre as duas obras, para ela, é emocionante: "Eu acho que qualquer releitura é necessariamente uma conversa com o original. Quando eu estava decidindo que tipo de releitura fazer, meu amor intenso por Frankenstein me levou a uma releitura muito fiel, em vez de mais solta. Eu acho que ambas as direções - familiaridade com o original e depois explorar a minha narrativa, ou descobrir a minha releitura e depois voltar ao original para ver o que eu mudei - é emocionante."
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O Prometeu Moderno (Frankenstein: or the Modern Prometheus, no original em inglês), mais conhecido simplesmente por Frankenstein, é um romance de terror gótico com inspirações do movimento romântico, de autoria de Mary Shelley, escritora britânica nascida em Londres. É considerada a primeira obra de ficção científica da história. O romance relata a história de Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que constrói um monstro em seu laboratório. Mary Shelley escreveu a história quando tinha apenas 19 anos, entre 1816 e 1817, e a obra foi primeiramente publicada em 1818, sem crédito para a autora na primeira edição. Atualmente costuma-se considerar a versão revisada da terceira edição do livro, publicada em 1831, como a definitiva.
O romance obteve grande sucesso e gerou todo um novo gênero de horror, tendo grande influência na literatura e cultura popular ocidental. O aclamado autor de literatura de terror Stephen King considerou Frankenstein um dos três grandes clássicos do gênero, sendo os outros dois Drácula e O Médico e o Monstro. A obra está em domínio público e está disponível gratuitamente na Internet em língua inglesa. Mas você pode encontrá-lo nas livrarias e sebos, como no Estante Virtual.
Para quem desejar se aprofundar na leitura deste clássico e na sua criadora, recomendo Mary Shelley por Miranda Seymour e Mary Shelley: Uma biografia da autora de Frankenstein por Cathy Bernheim.
SOBRE A AUTORA: Kiersten White é autora premiada, best-seller do New York Times. Ela acredita que os livros são apenas palavras mortas em uma página até ganharem vida no cérebro daqueles que as leem. Por isso, seus leitores são um pouco como "doutores Frankenstein" – neste caso, os livros são os monstros. Kiersten vive com a família em San Diego, no sul da Califórnia (Estados Unidos). Apesar do perfeccionismo, a proximidade de seu lar ao Oceano Pacífico a impulsiona a sonhar com lugares distantes. E com tempos ainda mais longínquos.
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