[CLÁSSICOS] O PAPEL DE PAREDE AMARELO, CHARLOTTE PERKINS GILMAN.

outubro 20, 2019


Olá queridos, tudo bem? Hoje darei abertura a nossa coluna Clássicos onde serão apresentados livros que estão incluídos nesta categoria. Mas, qual o critério para o livro ser considerado literatura clássica? Normalmente, é necessário já ter passado um tempo de publicação e este ter sido passado por algumas gerações, sem perder seu valor, como no caso mais famoso de Os Miseráveis, escrito por Victor Hugo em 1862 e que até os dias de hoje se mantem forte e com admiradores e estudiosos espalhados ao longo do mundo. O escritor italiano Italo Calvino fala exatamente sobre este assunto em seu livro Por que ler os clássicos

No caso do nosso livro de abertura, trago um dos meus contos favoritos e escrito por uma grande e inspiradora autora: Charlotte Perkins Gilman. Em O Papel de Parede Amarelo, narrado em primeira pessoa, temos a história de uma mulher que após o nascimento de seu filho é diagnosticada com depressão nervosa temporária e leve tendência histérica. Para seu tratamento ter sucesso é necessário ficar confinada em um cômodo da casa, algo comum à época, século XIX. A claustrofobia gerada pela situação obviamente piora sua condição, fazendo com que entre em uma espiral de delírio e confusão mental.

Infelizmente, diversas mulheres se encontram na mesma situação que a protagonista do livro, pois se veem perdidas ao terem de lidar com a depressão pós-parto. Se nos dias atuais, ainda é complicado e existem casos absurdos de negligência por parte da família e do acompanhamento médico mesmo com o avanço da medicina, imagine antes com a falta de solidariedade e empatia de familiares, amigos e até mesmo dos pais dos bebês, vivendo em uma sociedade de mente arcaica e sem qualquer respeito com as mulheres e seus direitos, que a acusavam de histeria seja qual fosse o motivo. No conto percebe-se a debilitação da personagem e o quanto seu marido parece ter controle sobre seu estado mental. 

A forma como ela descreve os momentos em que a mulher se encontra presa de encontro ao papel de parede amarelo é extremamente sensível e significativo. Além disso, a forma animalesca com que se transforma, dita o pensamento dos homens em relação as suas esposas que estavam sofrendo da mesma enfermidade. O "rastejar" se torna não somente um termo literal para a figura da personagem, como uma metáfora a forma cruel com que as mulheres eram obrigadas a conviver, diariamente, pela falta adequada de orientação e cuidado médico. 

Este terror psicológico de poucas páginas também é considerado uma autobiografia da autora, que teve uma vida complicada. Durante a infância de Charlotte, seu pai abandonou sua mãe e irmãos. Com muitas dificuldades, o restante de sua criação foi sucedido na pobreza. Se acostumou a privações de sentimentos, incluindo por parte da mãe, que os impedia de criar laços de amizades. Até ler ficção era proibido. Porém, nossa autora nunca desistiu da literatura, que era uma grande paixão de seu pai que mais tarde entraria em contato com ela com uma lista de indicações de livros. 

"Não sei porque escrevo isto. Não é algo que eu queira fazer. Não me sinto capaz. 
E eu sei que John acharia um absurdo. 
Mas tenho que expressar de alguma forma o que sinto e penso - é um alívio tão grande." 

Em 1884, ela se casou com o artista Charles Walter Stetson depois de inicialmente recusar sua proposta porque um pressentimento lhe disse que não era a coisa certa para ela, como aborda sua biografia "The Living of Charlotte Perkins Gilman". Sua única filha, Katharine Beecher Stetson, nasceu no ano seguinte, em 23 de março. Charlotte sofreu uma crise muito séria de depressão pós-parto. O que a inspirou a escrever este livro que lhes trago. Em seu tratamento, foi recomendado que se dedica-se completamente a sua filha e que parece de produzir seus textos. Assim que saiu do sanatório onde esteve internada, sua situação piorou, com vários episódios de alucinação motivados pelo agravamento do quadro da depressão. Então ela tomou uma decisão que transformou sua vida: se divorciou do marido e passou a guarda de sua filha para ele e sua nova esposa. 

A autora é considera uma das grandes intelectuais feministas, inclusive publicou na virada do século 19 para o 20, estudos sobre condição social e econômica das mulheres, que resultou na obra Women and Economics, de 1898. Este material foi adotado em universidades, traduzido em diversos idiomas e exaltado como um dos marcos da luta pela igualdade de gêneros. Infelizmente, após a descoberta de um câncer de mama incurável, utilizou o método da eutanásia (do qual era defensora) para findar sua vida. Faleceu em 7 de agosto de 1935, nos deixando obras reflexivas e importantes na luta feminista.

FONTES E ANOTAÇÕES:
Delirium Nerd (conheçam este site incrível) 

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