[RESENHA] O CONSTRUTOR DE PONTES, MARKUS ZUSAK.

novembro 10, 2019


Este é um daqueles livros que a sinopse pode entregar muita coisa, por isso optei por não colocá-la e já seguir com a resenha. O Construtor de Pontes, foi o segundo livro da minha caixa literária do Intrínsecos. Foi um dos meus favoritos e uma grata surpresa, pois esperava o lançamento dele aqui no Brasil. Escrito por Markus Zusak, o mesmo autor de A Menina de Roubava Livros, a obra nos mostra uma história intensa, dramática e muito especial sobre o valor da família. 

Segundo autor, levou mais de 10 ano para este livro ficar pronto, pois não se sentia a vontade com o que estava produzindo, até encontrar a voz de Clayton "Clay" Dunbar, o garoto que transforma a vida de seus irmãos e daqueles que o conhecem. A narrativa do livro se passa pela voz do irmão mais velho de Clay, Matthew Dunbar, que nos mostra o passado e presente de suas vidas a partir de sua escrita em uma velha máquina de escrever na cozinha de sua casa. O enredo é fascinante, principalmente pelo estilo de vida desta família tão única, que nos faz enxergar que o conceito de família está ligado diretamente a maneira como se convive debaixo do mesmo teto. Tanto que eu definiria o livro em três palavras: sobrevivência, partilha e construção. 

No passado, os cinco irmãos (Matthew, Rory, Henry, Clayton e Thomas) haviam sido abandonados pelo pai, Michael Dunbar, sem qualquer explicação. No entanto, em uma tarde ensolarada e abafada o patriarca retorna com um pedido inusitado: precisa de ajuda para construir uma ponte. Escorraçado pelos jovens e por Aquiles, a mula de estimação da família, o homem vai embora novamente, mas deixa seu endereço num pedaço de papel. Acontece que havia um "traidor" entre eles: Clay. 

Assim, ele parte para a cidade com pai e juntos, se dedicam ao projeto mais ambicioso e grandioso de suas vidas: uma ponte feita de pedras e também de lembranças — lembranças da mãe, do pai, dos irmãos e dele mesmo, do garoto que foi um dia, antes de tudo mudar. O tempo, assim como o rio sob a ponte, tem uma força avassaladora, capaz de destruir, mas também de construir novos caminhos. Com esta premissa, temos uma história marcada pela culpa, morte e o sentimento de redenção. 

Torna-se interessante a maneira como o autor nos coloca na condição de observador, como também de carrasco, principalmente quando o pai dos meninos aparece. É extremamente difícil não sentir empatia pelos personagens, pois ao longo das páginas, podemos conhecer um pouco sobre cada um deles, e mesmo aqueles que parecem destemidos e sem algum medo, escondem atrás da armadura da violência, uma vulnerabilidade que nos choca e emociona quando transparece. 

As referências presentes no livro são incríveis e dizem muito sobre os personagens. Eu adoro quando existem citações da Ilíada e Odisseia e também ao artista Michelangelo. O uso da metáfora para se referir a um certo personagem, para mim, foi uma das coisas mais impactantes que o autor nos trás, pois carrega em si um significado enorme e que dita o ritmo da narrativa. 

Uma das coisas que mais amei acompanhar (além da jornada de Clay) foi a história da matriarca da família, Penélope Lesciuszko, pianista e refugiada da Europa Oriental. Foi um dos arcos mais bem desenvolvidos que pude ler, me fazendo sentir extremamente conectada a ela e a forma com que observava o mundo e cuidava de seus filhos. Penélope conhece Michael quando ambos se encontravam em um momento vulnerável da vida. Contudo, mesmo com a improbabilidade os guiando, criam uma família exótica e autêntica. 

"Falávamos palavrões que nem condenados, brigávamos feito cão e gato e travávamos batalhas épicas na sinuca ou pingue-pongue, nos dardos, no futebol, no baralho. Nossa TV estava cumprindo prisão perpétua. Nosso sofá pegou anos."

Um livro intenso, complexo e que provavelmente lhe deixará um gosto agridoce. Não é uma leitura que é agradável ou fácil de ser consumida. Ainda hoje, não me sinto totalmente coesa em contar sobre tudo que li, pois o misto de sentimentos em relação a estes personagens e suas histórias se tornaram pessoais, ao ponto de considerar um dos meus livros favoritos. Uma relação familiar que o passado e o presente tão bem costurou, reencontrou e sensibilizou, de uma forma que somente Zusak poderia nos contar. 

Abaixo, segue o trecho de uma carta que Clay recebe de uma das pessoas mais importantes de sua vida, Carey, seu interesse romântico. Diz muito sobre o personagem e aquilo que o representa: uma chama lenta e constante de amor e determinação. 

"Querido Clay,
Quando você estiver lendo isto, já teremos conversado... mas eu só queria dizer que sei que você vai partir muito em breve e que eu vou sentir saudade. Já estou com saudade. Matthew me contou sobre um lugar remoto e uma ponte que você talvez vá construir. Tento imaginar do que essa ponte será feita, mas no fim das contas acho que isso não fará diferença. Queria poder levar crédito pela frase, mas sei que você vai se lembrar dela, do texto de orelha de O marmoreiro: "tudo que ele construiu na vida era feito não apenas de bronze ou de mármore ou de tinta, mas dele... e de tudo que havia dentro dele." 
Tenho certeza de uma coisa: Essa ponte vai ser feita de você....
Com amor, Carey"
ADQUIRA SEU EXEMPLAR:



SOBRE O AUTOR: Markus Zusak nasceu em 1975, em Sydney, na Austrália. Seu best-seller A menina que roubava livros lhe rendeu sucesso mundial, tendo sido traduzido para mais de quarenta idiomas e conquistado diversos prêmios. Pela Intrínseca, também publicou Eu sou o mensageiro e A garota que eu quero. O construtor de pontes foi escrito ao longo de treze anos, uma grande jornada para Zusak, mais grandiosa ainda para quem o lê.

Construtor de pontes, a menina que roubava livros, markus zusak, saga familiar, romance histórico

CONHEÇA NOSSAS OUTRAS POSTAGENS:

0 comentários

@mariandonoslivros