[RESENHA] CONFISSÕES DO CREMATÓRIO, CAITLIN DOUGHTY.

novembro 15, 2019


Conversar sobre a morte ainda é um assunto tabu para nossa sociedade, mesmo que seja uma das únicas certezas que temos na vida. Apesar disto, existem religiões e culturas que a compreendem como um rito de passagem para este mundo ou como uma experiência que vivemos por aqui, que simboliza apenas uma etapa (de muitas) que estão por vir. Sempre me interessei por livros que me desafiassem a sair de minha zona de conforto e, ao mesmo tempo, pudessem me fornecer novas perspectivas para minha vida. E assim foi com esta obra. Uma bela e surpreendente surpresa, me fazendo perceber que precisamos falar mais sobre a morte e o quanto ela é inelutável. 

SINOPSE: Um livro para quem planeja morrer um dia. Morrer é a única certeza da vida. Então, por que evitamos tanto falar sobre ela? A morte é inevitável, sentimos muito. Mas pelo menos, como descobriu Caitlin Doughty, ficar a sete palmos do chão ainda é uma opção. ''Confissões do Crematório'' reúne histórias reais do dia a dia de uma casa funerária, inúmeras curiosidades e fatos históricos, mitológicos e filosóficos. Tudo, é claro, com uma boa dose de humor. Enquanto varre as cinzas das máquinas de incineração ou explica com o que um crânio em chamas se parece, Caitlin Doughty desmistifica a morte para si e para seus leitores. O livro de Caitlin – criadora da websérie Ask a Mortician e da – levanta a cortina preta que nos separa dos bastidores dos funerais e nos faz refletir sobre a vida e a morte de maneira honesta, inteligente e despretensiosa – exatamente como deve ser.

Escrito por Caitlin Doughty, uma agente funerária, escritora e youtuber (responsável pela webserie Ask a Mortician e fundadora do grupo The Order of the Good Deatho livro nos leva em uma (literalmente) viagem pela experiência de Doughty em sua profissão. Os seus relatos somados as expectativas para compreensão deste universo, que nos apresenta detalhes únicos, é muito interessante. Apesar disto, é importante frisar duas características: o ritmo do livro é lento e não apresenta nenhuma ação ou história macabra. O seu intuito é mostrar as vivências da autora e seus pensamentos e observações acerca do tema.

A contextualização que Doughty trouxe, além de pesquisas e outros fatos históricos, foram complementares as suas colocações, o que deixou a obra mais rica e sendo uma das melhores a respeito do assunto que aborda. Outra questão que adorei foi a crítica construtiva que ela escreveu em relação a como tendemos a retratar a morte, pois a sua perspectiva nos deixa com uma visão mais objetiva, crível e reflexiva sobre tudo aquilo que fomos convencidos - e talvez não de forma direta, a acreditar como verdade e certeza únicas. O humor também se tornou um elemento importante, pois em alguns momentos, as lembranças de Caitlin sobre os casos que acompanhou ou cuidou, nos deixa com o coração apertado.

"Ou talvez tenha sido porque os olhos azuis me lembraram de uma forma primitiva e narcisista de mim mesma e do fato de que eu, de alguma forma, vivia não para ser cremada, mas para cremar.  Meu coração estava batendo e o dela, não".

Incompreensível. Inacreditável. São muitas as palavras com in que posso descrever a morte e tudo aquilo que a segue. Fato é que ainda existe muito a ser explorado sobre os seus mistérios, como os estudos que tem sido desenvolvidos com aqueles pacientes que passam alguns segundos ou minutos sem qualquer batida do coração. Por isso, livros como Confissões do Crematório podem ser transformadores. Seja pelo conhecimento adquirido, seja pela discussão sobre a morte. Em algum momento, todo nós estaremos a sete palmos daquilo que consideramos nossos lares e bens materiais. Talvez iremos viver em um outro plano ou simplesmente seremos lembrados por nossas ações e dizeres. O mais importante, é saber que a morte faz parte de nossa vida, assim como o ar que respiramos: natural e inevitável (em alguns casos). 

"As pessoas no frigorífico provavelmente não andariam juntas no mundo dos vivos. O homem negro idoso com infarto do miocárdio, a mãe branca de meia-idade com câncer de ovário, o jovem hispânico que levou um tiro a poucos quarteirões do crematório. A morte os levou até ali para uma espécie de reunião das Nações Unidas, uma discussão em mesa redonda sobre a não existência."
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SOBRE A AUTORA: Caitlin Doughty é agente funerária, escritora e mantém um canal no YouTube onde fala com bom humor sobre a morte e as práticas da indústria funerária. É criadora da websérie Ask a Mortician, fundadora do grupo The Order of the Good Death (que une profissionais, acadêmicos e artistas para falar sobre a mortalidade) e também autora de Confissões do Crematório.

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