Existem livros que nos emocionam além de nossa compreensão, ainda mais quando ele nos conta a história sob a perspectiva de uma garotinha de 7 anos que carrega consigo uma força e ousadia que dificilmente um adulto conseguiria alcançar. Com tramas paralelas que nos toca por seu crível drama, Backman nos dá uma obra que abrange de tudo um pouco, mas com foco no amor entre neta e avó.

SINOPSE: Uma história emocionante sobre vida e morte, família e amizade, realidade e fantasia, e sobre o direito de ser diferente, narrado sob o ponto de vista de uma precoce menininha de 7 anos. No livro, o segundo do autor do best-seller internacional Um homem chamado Ove, adaptado para o cinema com Tom Hanks no papel principal, a protagonista é Elsa: dona de uma maturidade e inteligência acima da média, a pequena fã de Harry Potter adora corrigir a gramática de todos a sua volta. A única amiga de Elsa é a sua excêntrica avó de 77 anos, capaz de assaltar um jardim zoológico porque a neta está triste, fumar em lugares proibidos, andar nua na varanda e pregar valentes sustos nos seus vizinhos. Quando a avó morre e deixa uma série de cartas pedindo desculpas a todas as pessoas com quem já errou, tem início a maior aventura da vida de Elsa.

Minha avó pede desculpas é um livro que eu definiria como delicado. A relação entre Elsa e sua avó é algo muito bacana e, ao mesmo tempo, marcante, principalmente quando a anciã falece, deixando para a precoce jovem a tarefa de cuidar daqueles a sua volta e do mundo secreto que só elas compartilhavam, chamado Miamas. Assim, o livro se desenrola de forma a nos apresentar aos outros personagens, que trazem consigo histórias tristes e que nos causam questionamentos sobre nossas próprias vidas.

A avó de Elsa era médica e percorria o mundo ajudando as pessoas em situação de vulnerabilidade por conta das guerras, o que a afastou de sua família, principalmente da mãe de Elsa, com que tem uma relação turbulenta. Porém, percebe-se que a vinda da pequena prodígio mudou a vida de vovó que até mesmo diz sentir-se uma outra pessoa. Aliás, esta senhorinha é extremamente vibrante, principalmente pelas confusões em que acaba participando ao lado de Elsa. Então, antes de morrer, ela sente que deve desculpas para algumas pessoas, então deixa para Elsa a missão de entregar cartinhas endereçadas para todas as pessoas que vivem no prédio em que elas moram. Nesta aventura, vamos descobrindo que por detrás de cada porta, existem pessoas que escondem suas próprias dores. 

É interessante perceber a forma como cada personagem conta sua história e a maneira como Elsa questiona e compreende tudo, a começar pelos nomes com que chama os respectivos moradores e familiares: Pai, Mãe, Monstro, Nosso Amigo, O Renault (ao se referir ao carro da avó), Metade (sua irmã), Mulher da Saia Preta, Olhos Verdes, Menino com Síndrome. Cada um tem uma ligação profunda com vovó e as histórias de fantasia que elas compartilhavam, como o Nosso Amigo, que também é chamado do Wurse, em alusão a uma criatura feroz que habita Miamas. O livro aborda temas delicados, então é interessante se atentar na forma como o autor os expõe, principalmente na troca de diálogos entre os personagens e Elsa, que mesmo no seu amadurecimento prematuro, ainda é uma criança que vai aprender mais sobre o que a cerca e lhe foi confidenciado conforme irá crescer. 

O mais bacana do livro se encontra na forma como é narrado e no seu dinamismo, que oferece uma obra que não somente aguça nossa curiosidade a cada revelação, como também nos coloca na posição de expectadores. É um livro que eu recomendaria você ir sem saber muitas informações para se surpreender com cada descoberta. Minha avó pede desculpas traz diferentes histórias, todas com seus erros e ganhos, o que nos causa maior aproximação e identificação, tornando a leitura memorável, intimista e muito inspiradora. E mais do que isto: o quanto um elo entre uma avó e sua neta pode ser um dos sentimentos mais poderosos e eternos que já existiu.