[RESENHA] SOBRE OS OSSOS DOS MORTOS, OLGA TOKARCZUK.

janeiro 30, 2020


PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA 

A leitura desta obra foi bem imersiva. Quando soube do que se tratava e de seu agraciamento no prêmio Nobel de Literatura, fiquei ainda mais curiosa. Olga nos presenteia com uma narrativa envolvente, perspicaz, ousada e que nos faz refletir sobre a reação do homem com os animais de forma intensa e muito pessoal. Acredito que exista um "você" antes e depois da leitura deste livro. 

SINOPSE: Em uma remota região da Polônia, uma professora de inglês aposentada costuma se dedicar ao estudo da astrologia, à poesia de William Blake, à manutenção de casas para alugar e a sabotar armadilhas para impedir a caça de animais silvestres. Sua excentricidade é amplificada por sua preferência pela companhia dos animais aos humanos e pela crença na sabedoria advinda do estudo dos astros. Subversivo, macabro e discutindo temas como mundo natural e civilização, este livro parte de uma história de crime e investigação convencional para se converter numa espécie de suspense existencial. Olga Tokarczuk oferece um romance instigante sobre temas como loucura, injustiça e direitos dos animais.

A história do livro se inicia com a morte de Pé Grande, o vizinho da nossa protagonista, Janina Dusheiko. Junto de seu outro vizinho, Esquisito (ela opta por apelidos que identifiquem as pessoas, ao invés de citar seus nomes verdadeiros), encontra o corpo em uma posição estranha e percebe que o motivo da morte trágica foi por engasgo de um osso de corça, animal que costumava caçar. A partir de então, outras mortes começam a ocorrer, mas sempre com homens que se utilizavam da caça ilegal como forma de ganhar dinheiro ou pelo simples prazer de presenciar o padecimento dos bichos. Assim, acompanhamos as investigações e as consequências destes crimes no pequeno vilarejo na Polônia.

Janina, narradora desta história, é uma professora de inglês que passa seus dias como caseira da comunidade que habita, além de também traduzir, junto de seu ex-aluno e amigo Dísio, as obras de William Blake, um importante poeta e pintor inglês. Vegana por escolha e defensora incondicional dos animais, acaba por receber das pessoas apelidos infames, principalmente por parte da equipe de polícia, que recebe suas denúncias contra os abusos aos animais, mas as ignoram e se submetem a arcar com ordens superiores, acobertando as cruéis atividades.

O livro é muito reflexivo e traz uma excentricidade que o destacou dos lançamentos do ano passado, conquistando milhares de leitores ao redor do mundo. Olga tem um estilo de escrita singular que deu uma nova roupagem para o gênero romance policial. Mesmo com o rebuscamento das palavras, ainda se mantém em uma linguagem acessível e de fácil compreensão. Do começo ao fim você se encontra fixado na história, que tem um final astuto e que nos causa uma série de questionamentos que perduram dias.

Vale a pena destacar três pontos principais do livro: discussão sobre como o ser humano observa, pensa e age a respeito da proteção aos animais; as reflexões sobre os mais diversos assuntos que a personagem nos coloca e o quanto se mostram originais e particulares; a maneira como introduziu a astrologia para investigar os assassinatos e explicar uma série de situações que acontecem em seu cotidiano. A todo instante a narrativa nos conduz a saber mais sobre o dia a dia de Janina e suas histórias e peripécias, nos fazendo adentrar ainda mais no universo criado por Tokarczuk, que parece ter colocado um pouco de si mesma em sua personagem que é uma mulher mais velha, sábia, observadora e crítica sobre tudo e todos que a cercam.

A justa e bonita homenagem a Blake é muito bem-vinda, principalmente quando cita alguma estrofe ou verso de suas obras para contrastar com a realidade vivida pelos personagens. O poeta viveu durante o apogeu do Iluminismo e da Revolução Industrial inglesa e escrevia sobre o que a sociedade se recusava a aceitar, como miséria, injustiças sociais e o poder imensurável da Igreja e nobreza.

Originalmente publicado em 2009, Sobre os Ossos dos mortos é um livro que vai te conquistar aos poucos. Pode não entrar para sua lista de favoritos, mas de alguma forma irá modificar e/ou acrescentar na forma como você irá enxergar o mundo a sua volta. A sua magia se estabelece pela análise sincera da vida humana sob a perspectiva de uma mulher tomada pelo seu amor aos animais, seu saber seguro sobre astrologia e pelas constantes inquietações das vidas que espreita, seja de questões religiosas até biológicas. Vale a pena se aventurar por esta obra que se tornou atemporal e ímpar. Um trecho abaixo que nos permite perceber a riqueza dos pensamentos de Janina: 

“Fico comovida ao ver imagens de satélite e da curvatura da Terra. É verdade, então, que vivemos na superfície de um globo, expostos ao olhar dos planetas, abandonados num enorme vazio, onde, após a queda, a luz se aglutinou em pequenos fragmentos e arrebentou? É verdade. Deveríamos ser recordados disso todos os dias, porque nos esquecemos. Iludimo-nos achando que somos livres, e que Deus nos perdoará. Pessoalmente, acho o contrário. Todas as boas ações transformadas em pequenas vibrações de fótons serão lançadas, enfim, para o cosmos como um filme ao qual até o fim do mundo será assistido pelos planetas.”

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SOBRE A AUTORA: Olga Tokarczuk (1962), é o nome mais premiado da literatura polonesa contemporânea. Seus livros já receberam as principais distinções de seu país, além de importantes prêmios para tradução na língua inglesa, como o Man Booker Prize.

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