[RESENHA] TODOS OS PÁSSAROS NO CÉU, CHARLIE JANE ANDERS.
janeiro 18, 2020
Quando adquiri o livro por meio de uma indicação, fiquei feliz em saber quem era a autora e sua trajetória de vida. Porém, preciso confessar que esta obra foi um tormento: eu gostei e não gostei. Demorei algum tempo para terminar, pois a narrativa em alguns momentos me deixava impaciente e um dos personagens principais só sabia me irritar com seu jeito desligado e bestinha de agir. Infelizmente, ele não funcionou tão bem para mim, apesar de boa parte dele ter sido bacana de acompanhar.
SINOPSE: Uma grandiosa história de amor, fantasia e ficção científica. Desde pequenos, Patrícia e Laurence tinham formas diferentes – e às vezes opostas – de enxergar o mundo. Patrícia podia falar com animais e se transformar em pássaros. Laurence construía supercomputadores e máquinas do tempo de dois segundos. Enquanto tentavam sobreviver ao pesadelo interminável da escola, seu isolamento se transformou em uma amizade cautelosa. Até que circunstâncias misteriosas os separam para sempre. Ou assim eles pensavam. Dez anos depois, ambos se reencontram em São Francisco. O mundo está prestes a implodir. Patrícia é formada em uma secreta escola de magia, e Laurence é um cientista tentando salvar a humanidade. A medida que os dois se reconectam, se veem levados a lados opostos em uma guerra entre ciência e magia. E o destino do mundo depende dos dois. Provavelmente. Uma profunda, mágica e divertida análise sobre a vida, o amor e o apocalipse.
Uma das coisas que me fizeram acreditar nesta história foi a questão entre magia e tecnologia. Eu sempre gostei muito desta dinâmica (quando respeitosa de ambos os lados), pois sempre terão reflexões e novos conhecimentos das duas partes, o que nos torna ainda mais munidos de opiniões embasadas e um olhar mais crítico para certas falas e posicionamentos. E neste livro não foi diferente.
Laurence e Patricia são jovens que tem problemas na relação com seus pais e sofrem bullying (cruel) na escola, o que cria um distanciamento em suas relações com outras pessoas. Assim, começam uma amizade inesperada e juntos compartilham seus segredos. A obra é dividida em 4 partes que mostram determinados momentos com os protagonistas. Nos dois primeiros vemos eles ainda crianças tentando lidar com cada dom que carregam e com os percalços que tentam separá-los. Já no terceiro e quarto, iremos conhecer suas vidas adultas e as consequências de suas ações para com o mundo.
A personagem de Patricia é a defensora da magia e Laurence da tecnologia. Quando crianças eles buscam o autoconhecimento que parece ser conquistado apenas nas páginas finais do livro. A todo momento eles erram e tentam acertar, sempre com a intenção de ajudar e entender aquilo que defendem e acreditam. Mas são nestes momentos que o conteúdo do livro se torna cansativo de acompanhar, como na parte 3, que ao meu ver, é uma confusão de narrativas, como se a autora tivesse perdido a essência de seus personagens e não soubesse mais sobre o que estava a escrever.
Como já dito, tive sérios problemas com o personagem do Laurence. Desde criança, o achei extremamente desagradável e conforme foi crescendo o mesmo. O arco romântico dele me pareceu mal planejado, pois em um dado momento ele ama com todas as letras uma moça chamada Serafina e noutro corre para os braços de Patricia, que sempre me pareceu mais sua amiga do que um real interesse amoroso. E neste ponto, para mim, a autora fez uma escolha infeliz: estes dois são mais certos como amigos do que como um casal.
São muitos eventos e personagens secundários que aparecem e desaparecem, o que me deixou bem chateada, pois a escrita da autora é incrível, além de mostrar sua criatividade e originalidade, principalmente com as metáforas e explicações científicas. Me pareceu que foi um potencial que se perdeu em algum momento do meio para o final. Aliás, a conclusão foi a única coisa que me deixou boquiaberta e curiosa para tentar ler outras obras da autora. Achei que foi surpreendente e pensando na trajetória dos personagens, mais do que satisfatória.
Todos os pássaros no céu é um livro que vai entrar na minha lista de releituras. Talvez, eu precise reler para ter certeza que não perdi alguma passagem ou que possa ter entendido errado a proposta da autora. Por enquanto o considero um livro interessante, mas que me decepcionou do seu meio para próximo do final. Apesar disto, acredito que vale a pena ser lido, pois Charlie nos traz uma boa história entre dois jovens que acreditam naquilo que os fazem únicos e que utilizaram disto para (tentar) salvar a humanidade.
"O sol ainda não havia nascido. Talvez nunca nascesse. Talvez o céu tivesse ficado enjoado dessas mudanças de roupa infinitas: vestindo manto após manto, mas sem nunca revelar o que usava por baixo de todos eles"
SOBRE A AUTORA: Charlie Jane Anders é ganhadora dos maiores prêmios de ficção científica mundial, incluindo o Hugo, Nebula, Locus e Emperor Norton Award, além de ter recebido um Lambda Literary Award na categoria melhor romance transgênero. Fundadora do io9, um dos mais prestigiados sites sobre ficção científica, ciência e fantasia, foi provavelmente a única pessoa a se tornar uma personagem em um livro de Star Trek. Viveu em um convento budista quando adolescente, adora karaokê e come muita comida picante, além de abraçar árvores e tocar leões de pedra para dar sorte.
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