[RESENHA] A PACIENTE SILENCIOSA, ALEX MICHAELIDES.
agosto 24, 2020Quando um livro se torna viral nas redes sociais e ganha muita popularidade, normalmente tem uma razão boa ou ruim para tais fatos acontecerem - muitas vezes em pouco tempo. Na época do lançamento de A paciente silenciosa dei atenção para outras leituras e somente 18 meses depois do seu lançamento, me permiti ler e adorar a história. Desde a personagem principal até o mistério que segue, a obra tem suas qualidades e nos deixa ansiosos para saber o que mais o autor pode nos apresentar.
SINOPSE: Alicia Berenson escreve um diário para colocar suas ideias em ordem. Ele é tanto uma válvula de escape quanto uma forma de provar ao seu adorado marido que está bem. Ela não consegue suportar conviver com a ideia de que está deixando Gabriel preocupado, de que está lhe causando algum mal. Alicia Berenson tinha 33 anos quando matou seu marido com cinco tiros. E nunca mais disse uma palavra. O psicoterapeuta forense Theo Faber está convencido de que é capaz de tratar Alicia, depois de tantos outros falharem. E, se ela falar, ele será capaz de ouvir a verdade?
O livro nos apresenta a dois pontos de vista: o primeiro pertence à Alicia Berenson, uma artista conceituada, que fora apaixonada por seu marido, Gabriel, que sempre a incentivou na carreira de pintora, como forma de transformar suas ideias em quadros. Porém, se num dia eles viviam numa bolha de paixão, no outro ele estava morto. E quem o matou foi Alicia. Ao ser interrogada sobre o ocorrido, ela não disse nenhuma palavra. E tem sido assim desde que esteve presa, por sete longos anos. Apesar disso, sempre foi uma pessoa de expressar seus sentimentos por meio das palavras, que guardava em seu diário, um companheiro que detinha todos os seus pensamentos e anseios cotidianos.
O segundo ponto de vista nos mostra o psicoterapeuta forense Theo Faber, que acaba de chegar a clínica em que Alicia está sendo mantida. Ele tem a total certeza de que conseguirá tratar e curar a mulher que inúmeras vezes tentou suicídio e sempre foi agressiva ou indiferente para aqueles que estão a sua volta e tentam fazê-la dizer alguma palavra. Narrado em 1ª pessoa, a personalidade do médico cria um contraste interessante com o que vemos de Alicia a partir das anotações no diário, especialmente por conhecermos Theo enquanto pessoa e profissional.
Durante o meio do livro, confesso que a leitura se arrastou, pois muito de Theo é nos oferecido, principalmente suas reflexões sobre a profissão ou nossa protagonista. Sua saúde mental parece estar instável, tornando sua narração um tanto questionável e incômoda. Ainda assim, foi uma parte que gostei bastante, com apresentação de vários termos e conhecimentos de forma acessível, já que o autor tem conhecimento no assunto, pois além ter feito terapia durante anos, ministrou algumas sessões voluntariamente com grupos de adolescentes e também fez uma pesquisa detalhada. Já adianto que após descobrirmos todo o segredo, fica clara a causa do enfoque em Theo por parte de Michaelides. Mesmo assim, me encontrava sempre querendo ler mais e mais sobre Alicia e tentando desvendar os motivos do assassinato de seu marido.
"Ficamos cada vez mais a vontade com a loucura, e não apenas a loucura dos outros, mas a nossa própria. Eu acredito que somos todos loucos, apenas de formas diferentes."
Algo que também me chamou atenção na leitura foi como conseguimos desenhar em nossa mente todas as cenas apresentadas. Acredito que parte deste mérito seja por Michaelides ser roteirista e saber nos guiar por toda a trama criada. Aliás, muito de toda a história foi inspirada na tragédia grega e na sua mitologia, como A Ilíada e A Odisséia, além da peça O Alcestis, como disse o autor em entrevista ao site Celadon Books. Muito de Alicia é parecido com a história de Alcestis, por isso quando se conhece o mito e detalhes importantes da história começam a surgir, parte do que aconteceu começa a fazer sentido e a história ganha um rumo surpreendente.
Me considero uma leitora razoável de thrillers e suspenses, mas também sou fácil de ser surpreendida, como aconteceu com esta obra. Ela tem uma fórmula de “receita de bolo” de outros livros do mesmo gênero, mas nada disso tira o seu brilho próprio. O final me deixou triste e com um grande “EU SABIA MAS NÃO SABIA” na boca. Como eu disse, algumas apostas que tinha em mente se concretizaram mas outras me deixaram com o queixo no chão. Foi totalmente coeso com todo o seu percurso e me fez sentir vontade de ler mais trabalhos do autor. Tudo foi bem pensado e estruturado por suas 331 páginas. Foram dois dias imersas nesta história que terminou de um jeito que ainda irei me lembrar durante muito tempo.
Recomendo muito para todas as pessoas, independente do gênero que lhe agradar mais. É muito bem escrito e desenvolvido, garantindo sua atenção desde as primeiras páginas. Seus direitos para adaptação cinematográfica foram comprados pelos produtores de filmes como Moonlight e 12 anos de Escravidão. Uma história que começa intimidante e cheia de dúvidas e termina de forma melancólica e reflexiva.
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SOBRE O AUTOR: Nascido no Chipre e filho de um pai greco-cipriota e uma mãe inglesa, estudou literatura inglesa na Universidade de Cambridge e fez uma pós em roteiro de cinema no American Film Institute, em Los Angeles. A paciente silenciosa é seu livro de estreia.
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