De forma resumida, a história é narrada por Kimberly Price, principal herdeira da PRC, agência de publicidade de sua família. Negligenciada por seus pais, enquanto também lidava com a morte de seu irmão mais velho, passou a criar uma armadura para enfrentar o mundo. Contudo, quando estava preparada para assumir a presidência da empresa que passou 11 anos se dedicando arduamente, viu tudo desmoronar diante das ações asquerosas de seu pai. Numa virada de rumo, junto de sua mãe, vai parar em um resort cinco estrelas prestes a ser inaugurado. Lá, começa a arquitetar seu plano de vingança, enquanto se depara com Hakan Sahin, um artista que está secretamente hospedado do outro lado do resort. Assim, somos apresentados ao pontapé do livro: seria este homem, consequência de uma possível insanidade de Kim? 

Eu amo a forma como Saj descreve os ambientes do resort, especialmente as paisagens paradisíacas. Porém, é com o romance que este livro nos ganha. Como uma das muitas especialidade da autora, desde a primeira interação do casal até suas cenas sensuais, sentimos a química que transborda entre eles. O desafio de criar um personagem que pode ser consequência de uma possível insanidade da personagem é a cereja do bolo, tornando uma das melhores partes da obra. Ao tecer esta trama cheia de referências e detalhes, percebemos que Saj apostou muito de si e da sua criatividade para nos agraciar com esta obra deliciosa de ler.  

Outra coisa que amei observar foi a interação entre Kim e sua mãe Anna, uma duquesa arretada e pra lá de animada, que vai surpreender muitos leitores com sua própria trajetória de vida, especialmente em uma linda cena entre as duas quase ao final da história. As suas atitudes dizem muito sobre sua vivência com o marido, um homem inescrupuloso que será a única figura capaz de nos fazer passar nervoso e beirar o ódio ao longo do livro. Confesso que ele foi um dos personagens que torci para ter um final bem trágico. 

Vale lembrar que o livro se passa entre as décadas de 80 e 90, então muitas situações enfrentadas por Kim vão de encontro ao contexto sociocultural vistos nestas épocas. Gostei de como a autora escreveu sobre a bissexualidade da Kim, condizendo com a realidade que era vivida. Infelizmente, o preconceito e a discriminação ainda se fazem presente, mesmo que a internet possibilite muitas discussões e trocas para diminuição dos casos de homofobia. Por isso, é sempre importante dizer que a denúncia é muito importante: elas podem ser feitas também pelo 190 (número da Polícia Militar) e pelo Disque 100 (Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos).