[DICIONÁRIO LITERÁRIO] PSEUDÔNIMOS.

janeiro 29, 2021


Ter pseudônimos sempre foi algo muito comum no meio literário, seja como estratégia de mercado, inseguranças e até por questões sociais bem sérias. Desde séculos passados, esta prática tem seus pontos de discussão, ainda mais quando se descobre os nomes que estão por trás de determinadas escolhas e os motivos para isto ter acontecido. Um caso famoso é o da escritora, poetisa e tradutora Mary Ann Evans, que por ser mulher, não pode usar sua própria identidade no seu romance Middlemarch: um estudo da vida provinciana (1871), tendo que optar por usar algo masculino, no qual ficou conhecida como George Eliot. Infelizmente, a autora não foi a única a passar por tal situação. 

As irmãs Charlotte, Emily e Anne Brontë, responsáveis pelas atemporais obras Jane Eyre, Morro dos Ventos Uivantes e Agnes Gray, respectivamente, também precisaram alterar suas assinaturas para terem seus títulos publicados, sendo Currer, Ellis e Acton Bell. A autora britânica Violet Page, que traz no seu repertório contos fantasmagóricos vitorianos que mostram representatividade lésbica e muitas discussões feministas, preferiu utilizar H.P. Vernon-Lee, pois “o nome que escolhi contém partes dos nomes do meu pai e do meu irmão, combinadas às minhas iniciais: H.P. Vernon-Lee. Tem a vantagem de não parecer nem feminino nem masculino”, conforme escreveu em uma carta de 1875.

É bem triste pensar que muitas mulheres abdicaram de se apresentar na sociedade como as responsáveis pelos livros que escreviam por questões machistas e mercadológicas. Por incrível que pareça, também é algo que continua acontecendo, como no caso da J.K Rowling, autora de Harry Potter. O contrário também acontece, com homens que usam pseudônimos feminismo, como no caso de Nelson Rodrigues ao lançar o romance “Meu destino é pecar”, como Suzana Flag. Contudo, sempre foi uma discussão muito mais profunda quando se trata das mulheres que, por muito tempo, não tinham como lutar por seus direitos. Inclusive, muitos títulos foram republicados recentemente com os verdadeiros nomes de suas criadoras. 

Apesar disto, encontramos casos de autores que vão pelo caminho que lhe dará abertura para um mercado e público-alvo diferente. Por exemplo, se ele ficou consagrado em um determinado gênero, mas gostaria de explorar outro completamente diferente e sente que não seria totalmente bem recebido, ele irá usar um pseudônimo para conseguir ser lançado. Nora Roberts, uma das autoras de romance mais conhecidas no mundo, já lançou centenas de obras deste gênero. Porém, ela também é responsável pela série Mortal, que trilha o caminho do romance policial com aspectos de suspense e distopia, sob a personalidade de J.D. Robb. No Brasil, os livros são publicados pela Editora Record. O caminho inverso foi feito por Agatha Christie, que para não "decepcionar" seus leitores de suspense, escreveu romances com o nome de Mary Westmacott. Hoje, já conseguimos notar que muitas capas apresentam o pseudônimo e o verdadeiro no do autor, independente de sua carreira. 

Nas situações mais graves, existem os casos envolvendo perseguições políticas, a citar o autor alemão Erich Kästner, que usou nomes como Berthold Bürger, Melchior Kurtz e Robert Neuner durante o período nazista. Mohammed Moulessehoul, escritor argelino que escreve em francês e árabe, usou o nome de sua esposa, Yasmina Khadra, pois era militar e tinha medo de sofrer alguma retaliação. 

Mas, claro, muitas preferências são simplesmente porque o nome parece bacana ou a pessoa não se sente confortável para ser divulgada ao público. Dois exemplos que ilustram bem estas situações são de Lewis Caroll e Elena Ferrante. O primeiro, segundo informações de estudiosos, foi criado seguindo uma ordem lógica. O autor traduziu o inglês “Charles Lutwidge” para latim, formando o nome Ludovicus Carolus. Depois, passou para o inglês outra vez, criando o famoso Lewis Carroll. Já a segunda, responsável pela tetralogia Napolitana, ainda tem sua identidade as escondidas, gerando um ar de mistério que muitos querem sempre tentar descobrir. Inclusive, a autora publicou uma lista bem especial de suas autoras mulheres favoritas. Vale a pena conferir. 

Ficou curioso para saber mais exemplos? Bom, abaixo, eu trago mais alguns que ficaram bem conhecidos após a revelação de suas histórias:

Cassandra Clare: o seu verdadeiro nome é Judith Rumelt. Ela nasceu no Irã, mas por conta dos seus pais (que são originalmente norte-americanos), também tem naturalidade americana. Para entreter seus colegas de classe e até como forma de deixar sua imaginação correr solta, ela produziu uma história chamada "The Beautiful Cassandra", inspirada em uma pequena história de Jane Austen de mesmo nome, o que a levou a criar seu atual pseudônimo. Para saber mais informações da autora e de seus livros, recomendo muito o Idris Brasil. Suas obras: dentre os mais populares são a série Os Instrumentos Mortais e as trilogias Os Artifícios das Trevas e As Peças Infernais. 

George Sand: a autora, chamada Amandine Dupin, tinha como amigos os escritores Gustave Flaubert (Madame Bovary) e Honoré de Balzac (A Comédia Humana). Causava muitas polêmicas na sociedade, pois sempre era vista de vestimentas que naquela época eram apenas para homens, além de ser vista realizando ações consideradas não femininas, como fumar e ter diversos casos amorosos (e vamos de revirar os olhos). Então, para publicar suas obras, precisou usar este pseudônimo. O autor russo Fiódor Dostoiévski já descreveu seu talento como "primeiro lugar nas fileiras dos escritores novos". Suas obras: Lélia (1833), Indiana (1832) e a autobiografia História da minha vida (1856). 

Rian: a brasileira Nair de Tefé era extremamente versátil pois pintora, pianista, cantora, atriz e caricaturista. Também foi a primeira-dama do país entre 1913 e 1914, como a segunda esposa do marechal Hermes da Fonseca, 8.º Presidente do Brasil. Para conseguir publicar suas caricaturas, precisou adotar um pseudônimo, que significa o seu primeiro nome de trás para frente. Para quem não pegou: RIAN é NAIR ao contrário. As meninas do Delirium Nerd escreveram este texto incrível sobre ela, que você precisa ler. 

Algumas das obras feitas por Nair (Imagem: Reprodução)

Fernando Pessoa: eu não poderia deixar de citá-lo por aqui, até para não deixar de falar dos heterônimos criados por ele. Para quem desconhece, o termo é usado quando algum autor assume outras identidade para assinar diferentes obras. No caso de Pessoa, foram várias dentre elas podemos citar Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, que eram as mais utilizadas por ele. Ele também já escreveu textos em inglês como Alexander Search e Charles Robert Anon. Ele não brincava em serviço mesmo, né? Para quem quiser ler algumas obras do próprio Fernando, o Domínio Público já tem algumas delas disponíveis. 

[BBC, Revista Cult,]

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