"O QUE EU PODIA FAZER PARA AJUDAR?"

Olá galera, tudo bem? Hoje trago a resenha deste livro maravilhoso. Eu o conheci na FLIPOP e fiquei totalmente apaixonada pelo primeiro capítulo que dispuseram para lermos. Então, eis que chega a Bienal do Livro, onde finalmente adquiro o meu exemplar autografado pela própria Fernanda Nia. Apesar de parecer uma leitura que demandará tempo, Mensageira da Sorte é uma grata surpresa em todos os sentidos: narrativa, personagens, trama, antagonismos e mensagem. As suas surpreendentes ligações com a atual situação do Brasil e principalmente no Rio de Janeiro, fazem este livro ser necessário para todos nós.

SINOPSE: Em pleno Carnaval carioca, durante uma confusão em um protesto contra a AlCorp, Sam passa a ser uma mensageira temporária no Departamento de Correção de Sorte, uma organização extranatural secreta incumbida de nivelar o azar na vida das pessoas. Para manter esse equilíbrio, os mensageiros devem distribuir presságios de sorte para alguns escolhidos. E o primeiro “cliente” de Sam é justamente o seu novo vizinho e colega de classe, Leandro. O garoto é um youtuber em ascensão e a ajuda dela, na forma de uma mensagem sobre nada menos que paçoca, o impulsiona a fazer um vídeo que o levará para o auge da fama. O que Sam não sabe é que Leandro também é engajado nos protestos contra a corrupção da AlCorp, sem se preocupar com os riscos que possa correr ou com as chances que tem dado ao azar, e a garota se vê obrigada a usar a sorte do Destino para protegê-lo. Perdida entre seus sentimentos por Leandro e a culpa pela morte de seu pai, Sam começa a compreender a linha tênue entre o livre-arbítrio e o acaso. Com uma boa dose de sarcasmo, ela embarca na dura jornada para desmascarar o que está deteriorando o sistema da Justiça, tanto a natural quanto a extranatural. Em meio a uma rede de intriga, corrupção e poder, a mensageira da sorte precisará fazer as pazes com o passado e lutar até o fim para que a balança do Destino se equilibre outra vez.

Em Mensageira da Sorte acompanhamos a história de Cassandra Lira, ou somente Sam, que vive em um Rio de Janeiro com várias ondas de protestos contra uma organização que criou um enorme monopólio de domínio perante a cidade. Em um destes protestos titulados "Protesto do Não", Sam perde seu pai. Tentando lidar com o luto e acompanhando o desenrolar de toda a situação política, ela se muda para uma nova cidade com sua mãe, onde tenta prosseguir com sua vida. Porém, tudo muda quando ao tentar ajudar uma desconhecida, Sam se transforma na mais nova funcionária do Departamento de Correção de Sorte do Destino (DCS), com o objetivo de passar presságios a pessoas que podem estar correndo riscos de vida por conta do azar.

Este é basicamente um resumo do enredo de MDS. Do início ao fim, a história nos fisga de uma maneira quase sobrenatural de tão boa. A escrita da Fernanda é uma delícia de acompanhar. Eu praticamente anotei várias frases do livro, especialmente nas discussões e reflexões que ele nos oferece. Você sente que parte da história você já deve ter visto em algum local, mas a ambientação nacional em conjunto com as alusões do nosso momento político e social atual fazem MDS ser original e único. E para o cenário de nossa literatura, é algo incrível.

Por falar na ambientação... amei. Me senti obrigada a muitas vezes parar para procurar sobre o Rio de Janeiro e tentar buscar as referências citadas no livro. Como uma paulista menos viajada, fiquei encantada com muitas coisas que conheci. Senti que neste ponto, foi um efeito meio Cassandra Clare, onde conseguimos visualizar tudo o que Nia estava nos mostrando. Inclusive fiz uma lista de possíveis locais em SP que poderiam ser a sede da triagem do DCS, que é o local onde os mensageiros são oficializados para prosseguir com seu trabalho. Provavelmente eu colocaria a Catedral da Sé ou na Estação da Luz. 

Agora vamos falar um pouco sobre alguns pontos importantes da narrativa. Colocarei em tópicos por ser mais fácil de explicá-los e assim expor meus pontos de vista:

◆ A AlCorp é a tal instituição que criou o monopólio e assim possui um grande domínio sobre toda e qualquer coisa no estado. Os protestos organizados são contra os aumentos alarmantes nos produtos básicos para nossa sobrevivência como alimentos e medicamentos, além da política narcisista e a violência gratuita da P3, a polícia que está fazendo um trabalho contraditório ao qual é destina perante a constituição e seus deveres. O diretor da corporação é o nosso "vilão". Digo entre aspas, porque senti que na verdade, não existem vilões ou mocinhos. Existem pessoas que fazem escolhas e devem arcar com as consequências delas. O arco da AlCorp e tudo o que a liga, nos remete ao momento atual em que estamos inseridos. A reflexão e o cuidado com o qual devemos analisar o que acontece a nossa volta. A corrupção é trabalhada de forma brilhante. O desencadear dela nos faz perceber o quanto ela está presente em muitas coisas das quais fazemos e não somente nas mãos dos famosos "peixes grandes".

◆ O Departamento de Correção de Sorte do Destino (DCS) foi criado pela Justiça, a fim de conseguir deixar a balança dos cidadãos equilibrada. Sorte e azar em ambos os patamares. Cada mensageiro passa por uma triagem antes de iniciar seus trabalhos, onde assina um contrato e recebe todos os benefícios que tem direito, incluindo uma dose de sorte. O principal objetivo dos mensageiros é transmitir presságios que recebem todas as manhãs, as pessoas que aparecem nos seus "gps". Não é permitido se envolver emocionalmente com o receptor da mensagem. Mas é impossível, certo? Tanto que em algumas mensagens da Sam, eu sofri junto dela. Os antagonismos trabalhados aqui foram muito fortes, em minha opinião. Muitos dos questionamentos da Sam são os meus próprios. A respostas não são conclusivas, mas me bastaram.

Deu para perceber que MDS tem muito mais a nos oferecer do que imaginávamos e parte disto se deve aos personagens secundários como Leandro, Ivana e Cecilia. Cada um destes três trazem consigo uma bagagem com a missão de ajudar nossa protagonista no decorrer da história. Aliás, o romance de Leandro com a Sam é algo tão lindo, nossa como eu amei estes dois juntos. Eu adoro a reflexão sobre a sua relação com a utilização das plataformas sociais como a inclusão do canal dele "Moleque Sensato", nos faz ter uma ideia maior sobre toda a situação. 

Claro eu não poderia deixar de falar um pouco mais sobre a Sam. Que personagem incrível! Eu me senti muito representada por ela. A maneira irônica com que ela lida com tudo é uma das coisas mais bacanas sobre ela. Eu amei ver a sua evolução ao longo do livro. A forma com que ela lida com a morte do pai, as próprias dúvidas com tudo a sua volta, o desafio e a responsabilidade com o DCS, a descoberta do amor, a relação com mãe... Tudo isto muito bem construído. Me senti ligada a ela de uma forma que não consigo explicar. Foi uma honra acompanhar a sua história. E o final deixa aquela sensação agridoce de que ela esteja bem e que as coisas fiquem bem, apesar de tudo.

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AGENCIAMENTO 

AGÊNCIA LITERÁRIA PÁGINA 7

SOBRE A AUTORA: Fernanda Nia é uma autora e ilustradora carioca aficionada desde cedo por livros e histórias em quadrinhos. Começou seu trabalho autoral em 2011, ao criar o site Como eu realmente, que em 2014 conquistou uma série de livros publicados pela Editora Nemo. Em 2018, a autora estreiou na prosa com seu primeiro romance, Mensageira da Sorte, pela editora Plataforma21. Além das aventuras de seus próprios personagens, Fernanda Nia ilustra e cria conteúdo para outros livros e materiais do mercado editorial e publicitário.

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